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A dança dos olhos: Onde o coração encontra o Céu

Crônica de Walter de Lima Filho – Baseada em Colossenses 3:1,2 – 09/06/2025

Lembro-me de um entardecer particular. O sol, preguiçoso, tingia o céu de tons alaranjados e roxos, um espetáculo grandioso que, no entanto, parecia competir com o incessante zumbido da vida urbana. Sirenes ao longe, buzinas impacientes, o burburinho de vozes se misturando. E no meio de tudo isso, eu me peguei olhando para o meu celular, revisando a lista de afazeres do dia seguinte, já sentindo o peso do que viria.

É curioso como somos hábeis em nos prender ao chão, não é? Nossa lista de tarefas, as preocupações financeiras, os pequenos atritos do dia a dia – tudo parece conspirar para manter nossos olhos fixos no asfalto, nos próximos passos, nas próximas contas. E então, as palavras de Paulo em Colossenses 3:1-2 vieram à mente, como um raio de sol atravessando a névoa: “Visto que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do Alto…”

Eu, que havia acabado de refletir sobre exatamente isso, senti um calafrio de reconhecimento. A teoria era linda, impactante até, mas a prática… Ah, a prática é onde a dança começa. Essa dança entre o que é visível e o que é eterno.

Essa escolha de olhar para cima não é uma imposição. Deus não nos arrasta pelos cabelos celestiais. Ele nos convida, com um amor que precede nossa resposta, a viver essa nova realidade que Ele já nos ofereceu em Cristo. A ressurreição, para nós, não é apenas um evento histórico; é uma porta aberta, uma oportunidade contínua de dizer “sim” à vida que Ele nos deu. E cada “sim” é um passo nessa dança em direção ao Alto.

Naquele entardecer, o convite de Paulo ecoou não como um mandamento pesado, mas como um lembrete gentil. Não se tratava de ignorar o mundo, de flutuar acima dos problemas como um balão desgovernado. Não! Era sobre mudar a perspectiva. Olhar para o Céu não é fugir da terra; é enxergar a terra com os olhos do Céu.

Pense comigo: a coragem para enfrentar uma notícia difícil, a paciência para lidar com um filho adolescente, a fé para persistir em um projeto incerto – de onde vêm essas forças quando o mundo parece desmoronar? Vêm de sabermos que nossa verdadeira força e coragem não estão aqui, mas lá onde Cristo está, assentado à direita de Deus. Essa é a fonte inesgotável de esperança, tanto para as pequenas vitórias terrenas quanto para a promessa gloriosa da eternidade.

E assim, enquanto o último raio de sol se despedia e as luzes da cidade começavam a piscar, eu guardei o celular. Respirei fundo. E, por um instante, deixei meus olhos se elevarem, não para as estrelas que ainda não haviam surgido, mas para a quietude do céu que, abaixo do “Céu”, se escurecia. Ali, naquele simples gesto, encontrei um fragmento da paz que vem de saber que, embora meus pés pisem o chão, meu coração vive no alto – “no Céu”. E essa é a dança que somos chamados a viver, todos os dias, com cada escolha.

Onde você tem direcionado o seu olhar hoje?

Perguntas Para Reflexão

1.  Onde está seu maior investimento de tempo e energia hoje: nas “coisas da terra” (preocupações diárias, bens materiais) ou nas “coisas do alto” (valores eternos, relacionamento com Deus)?

2.  Como a sua identidade de “ressuscitado (a) com Cristo” (nova vida em fé e obediência) influencia suas escolhas e atitudes diante dos desafios diários?

3.  Qual “coisa do alto” você sente que precisa buscar com mais intencionalidade nesta semana para fortalecer sua fé, coragem, paciência ou esperança?

4.  Se “pensar nas coisas lá do alto” é uma escolha, que passo prático você pode dar hoje para direcionar seu olhar e seu coração para onde Cristo está?

Walter de Lima Filho