Crônicas (2)

O fio de três cordões

Crônica escrita por Walter de Lima Filho, baseada na meditação “Não dê oportunidade para o Diabo”, do pastor Fausto Lauriano de Almeida – 15/09/25

O peso não era físico, mas se manifestava na alma. Uma espécie de neblina cinzenta, densa, que se instalava no peito e tornava cada passo uma batalha. A fé, antes uma rocha sólida, parecia agora um castelo de areia, desmoronando lentamente. O desânimo era um companheiro fiel, sentando-se comigo à mesa do café da manhã e sussurrando noites e noites sem parar. A voz de Deus, que antes soava como uma canção à minha alma, parecia distante, abafada.

Eu me sentia na fronteira, naquele lugar incerto e perigoso, entre o que eu sabia que era certo e a atração perigosa do mundo. Era como tentar equilibrar-se em uma linha tênue, com o abismo de ambos os lados. E a cada escorregada, a voz da culpa e da vergonha gritava, reforçando o sentimento de fraqueza e incapacidade. Eu me perguntava: onde foi parar a força? Por que o “inimigo” parecia tão forte e eu tão vulnerável?

O eco daquela pergunta me acompanhou por dias, até que a lembrança de um antigo amigo, de um conselho suave e firme, se fez presente. Ele me disse, com a calma de quem já esteve naquele mesmo lugar, que a fraqueza da fé não é um estado permanente. É um convite para o retorno.

Ele me falou sobre sair da “fronteira” e voltar ao centro da graça – para a bondade e os recursos que Deus nos dá. A santidade ou uma vida dedicada a Deus, ele explicou, não é uma lista de tarefas pesadas, mas um ato de liberdade. É escolher se afastar daquilo que nos enfraquece, para nos aproximarmos de “Quem” nos fortalece. Era um lembrete para olhar menos para a minha falha e mais para a minha alma – a fonte dos meus desejos. A decisão de amar a Deus, ser dedicado a Ele, de me entregar de novo, por menor que fosse o passo, já era a vitória. O resto, ele me garantiu, Deus faria.

Então, ele me falou sobre a Palavra de Deus como uma arma, não como um ritual. A Bíblia não é um livro de contos, mas ela é uma espada. Ele me desafiou a identificar minhas tentações – a ansiedade, o medo, a mentira e buscar versículos que eram a resposta direta. Era um convite para ser um soldado, não um espectador. Memorizar as promessas de Deus não era um exercício de memória, mas de fortalecimento do espírito. Era ter a espada em mãos para quando os desafios se apresentassem.

E por fim, o conselho mais difícil, mas necessário foi: não se isole. Quando a alma está pesada, o instinto nos leva a nos esconder. Mas a fé não foi feita para ser vivida sozinha. É no convívio com outros irmãos que a gente encontra UM FIO DE TRÊS CORDÕES que não se rompe, um lugar seguro para ser vulnerável e compartilhar o peso.

Ele me disse que a vitória já havia sido conquistada. Minha fraqueza não era o ponto final da história. O verdadeiro desafio não era lutar para vencer, mas lutar para permanecer em Cristo, que já venceu.

O peso na alma ainda está aqui, mas o cinza está começando a se dissipar. Eu entendi que o retorno não é uma corrida, mas um caminhar sob as orientações divinas. O importante é o próximo passo, por menor que seja, em direção ao centro da bondade ou da graça de Deus. E saber que, mesmo no meio da batalha, a paz está em permanecer unido com Deus e fazer a Sua vontade, por meio da força e proteção que Cristo dá.

Vamos orar?

SENHOR: Reconheço que a fraqueza em minha alma e o desânimo que sinto não me definem. Sei que, na Tua graça, a porta do retorno está sempre aberta. Perdoa-me por ter me afastado, por ter tentado viver na fronteira entre a Tua graça e o mundo, e por ter permitido que a voz do desânimo abafasse a Tua.

Eu Te agradeço por me dares a capacidade de escolher, a liberdade de me voltar para Ti. Neste momento, eu escolho dar um passo para o centro da Tua graça. Ajuda-me a fortalecer minha fé, não pela minha própria força, mas pela Tua. Que a Tua Palavra seja minha arma, e que a Tua presença seja a minha proteção. Eu me coloco debaixo da autoridade do Teu Nome, e peço que me uses, mesmo na minha fraqueza. Ajuda-me em NOME de Jesus, Amém!

Walter de Lima Filho