Crônicas (6)

A alma desalentada e a crise da fé

Crônica escrita por Walter de Lima Filho, baseada na meditação “O Molde Que Transforma a Mente e a Vida”, no dia 5 de outubro de 2025, na Comunidade Hebrom em São Paulo.

Quem nunca sentiu o peso do mundo esmagar a alma? Olhar para dentro e enxergar só falhas, só a poeira de um caminho que prometia ser reto, mas se tornou um labirinto de decepção, inclusive com a própria fé. É um desalento profundo, aquele nó na garganta que a gente tenta disfarçar no dia a dia, mas que grita na solidão.

Essa dor tem nome: crise da fé. Não é só duvidar de Deus, é duvidar de si na missão que Ele lhe deu. Você olha o mandamento de ser útil, de abençoar, de seguir com humildade e prudência, e se sente como um ramo seco. A gente sabe que deveria estar conectado e submisso a Cristo para ser abençoado, mas o coração insiste em se afastar, em seguir o atalho – o caminho do orgulho, do egoísmo e dos interesses pessoais. É quando a gente se pega “acreditando”, mas vivendo como se Deus não existisse de verdade na nossa agenda e nas nossas escolhas – Ele não faz ou não fez o que esperávamos!

O ESPELHO DE JUDAS E PEDRO

No nosso cotidiano, essa crise se manifesta em duas tragédias conhecidas. Pense em Judas: ele traiu, foi consumido pelo remorso intenso e se autodestruiu. A dor dele não virou arrependimento genuíno, virou condenação. Ele não buscou o perdão que estava ali, próximo ao Mestre – em Jesus, mas preferiu se afogar na própria culpa, tornando-se amargo e destrutivo.

A gente faz isso quando a nossa autocrítica vira autossabotagem—adiamos, exigimos um perfeccionismo irreal, nos isolamos, focamos só no negativo. Ou pior: vira autopunição— mergulhamos em compulsões, nos julgamos de forma implacável, negligenciamos a nós mesmos. São os caminhos de Judas, que levam ao desespero e à morte, ao afastamento da vida que Deus nos oferece.

Mas olhe para Pedro. Ele também falhou, e feio! Negou o Mestre com juras e maldições. Sentiu uma profunda tristeza, chorou amargamente. A diferença? A dor de Pedro era aquela que, como diz a Palavra, “produz o arrependimento que leva à salvação”. Ao se reencontrar com Jesus ressuscitado no mar da Galileia, foi restaurado, se tornou humilde e submisso sob a mão poderosa de Deus. Em vez da culpa, Pedro “escolheu” a graça divina e permaneceu firmemente nela até o fim de sua vida, para ganhar a Eternidade ao lado de Seu Mestre Jesus.

A FORÇA DA HUMILDADE E DO AUTOEXAME BÍBLICO

A vida, com seus desafios e pressões, sempre tentará nos fazer sentir pequenos e incapazes. Mas nossa história de falhas e nossos sentimentos presentes de fragilidade não nos definem. Cremos no Deus Todo-Poderoso, que nos recriou e está nos aperfeiçoando, a fim de vivermos à semelhança de Jesus, para propósitos bíblicos, elevados e eternos.

É por isso que precisamos trocar a autocrítica destrutiva pelo Autoexame Bíblico. A percepção que temos de nós mesmos é falível e tendenciosa, cheia de justificativas e orgulho. O Evangelho é o espelho perfeito que revela a escuridão da nossa alma, não para nos afundar, mas para nos capacitar a resistir às subjetividades que nos levam ao desespero.

Este autoexame é um exercício de humildade e dependência. Não é um mergulho em depressão, mas na graça transformadora de Deus. Ele nos dá a coragem para encarar nossas falhas e a confiança de que “Dele” receberemos a força para superá-las. A tristeza do mundo produz morte, mas a tristeza, segundo o trabalho de Deus em nosso interior, produz vida e persistência.

Se você está hoje com a alma desalentada, saiba que o Eterno lhe oferece Sua Graça, Sua presença e Sua misericórdia. Ele deseja que você se levante, obtenha uma fé firme e entenda a importante e esplendorosa tarefa de cooperar com Ele. Caso você se sinta longe “Dele”, a porta do arrependimento e da restauração, o caminho de Pedro, está sempre aberta. Olhe para o espelho da Palavra, receba a esperança, submeta-se à vontade de Deus, que é boa, perfeita e agradável a Ele e recomece. Então, com a ajuda do Espírito de Deus e de Sua Palavra,
mantenha-se firme sob Sua graça e misericórdia, de modo persistente. Como fiel seguidor e discípulo de Cristo, cumpra sua missão!

Vamos orar?

Bendito sejas Tu, ó Deus Eterno, Criador e Rei de todo o Universo, que sempre nos dá a Tua Palavra, para nos ensinar, restaurar e fortalecer a nossa confiança em Ti:

Grande Deus, Pai de amor e misericórdia, hoje eu venho a Ti com a alma pesada e o coração apertado. Eu reconheço o desalento que sinto, o nó de falhas e decepções que me faz duvidar de mim e da minha fé. É difícil, SENHOR, enxergar o caminho da humildade e da submissão, quando o orgulho e o egoísmo parecem mais fortes. Sinto que me afastei, que vivi minhas escolhas como se Tu não existisses de verdade em minha agenda. Isso me traz uma tristeza profunda que se aproxima do remorso destrutivo de Judas. Mas, Pai, eu clamo a Ti agora! Não quero o caminho do desespero e da autossabotagem. Com toda a emoção e sinceridade que há em mim, peço que me transformes. Eu confio na Tua graça que transformou Pedro, após a negação. Eu escolho o arrependimento – a mudança de mente e atitudes que levam à vida.

Meu Deus, eu me levanto neste momento, não com a minha força, mas com a esperança que vem de Ti. Eu troco a autocrítica que me destrói pelo Autoexame Bíblico, o espelho perfeito que me revela, mas que também me capacita a recomeçar. Dá-me a coragem para encarar minhas falhas e a persistência, para me manter firme sob a Tua poderosa mão. Eu aceito Tua graça e Tua misericórdia, e sei que Tu estás me aperfeiçoando para propósitos eternos, a fim de que eu viva à semelhança de Jesus. Que eu possa, a partir de hoje, cooperar “Contigo”, cumprir minha missão e viver conectado ao Teu amor. Ajuda-me a me agarrar firme à graça e à misericórdia que me ofereces. Em nome de Jesus, Amém!

Desejo a todos uma semana abençoada sob a poderosa mão do Eterno, que nos dirige por meio de nosso SENHOR Jesus Cristo, o nosso Único Salvador. Seu irmão e discípulo de Cristo, Walter.

Walter de Lima Filho