📖Texto base: Lucas 18:9-14
Recentemente, o nosso pastor Walter ministrou uma série de quatro mensagens baseada em Romanos 12:1-8. Nelas, aprendemos que o que realmente determina se seremos transformados segundo o ideal de Deus (vs. 1–2) e úteis para o Seu Reino (vs. 4–8) é a forma como nós avaliamos e submetemos o resultado dessa avaliação à intervenção divina (v. 3).
O desafio é que, na maioria das vezes, o nosso autoexame é influenciado pela tendência natural de nos compararmos com outras pessoas — reais ou idealizadas — e por doses de orgulho e vaidade que distorcem a percepção de nós mesmos. Assim, acabamos nos afastando do verdadeiro padrão de comparação, que é Cristo, o modelo perfeito e o alvo que devemos alcançar.
📖 9 Jesus também contou esta parábola para os que achavam que eram muito bons e desprezavam os outros: 10 —Dois homens foram ao Templo para orar. Um era fariseu, e o outro, cobrador de impostos. (Lucas 18:9-10 NTLH)
Podemos observar que Lucas deixa claro que Jesus contou essa parábola dirigindo-se àqueles que se consideravam muito bons e que, por isso, desprezavam os demais. Naquela época, Jesus estava falando especialmente aos religiosos — praticantes da Lei — que acreditavam ser melhores que os outros e que por isso tinham o direito de desprezarem os que não a observavam.
Trazendo essa mensagem para os dias de hoje, Jesus está se dirigindo a todos nós que já estamos há muito tempo na igreja, ou até mesmo que nascemos em um lar cristão, e que não praticamos aquilo que sabemos que Deus reprova. Por isso, achamos no direito de apontar o dedo para os pecados dos outros. Muitas vezes não fazemos isso com o propósito de ajudar, mas para condenar, evitando até mesmo nos associar a pessoas que consideramos “pecadoras”, com medo de sermos confundidos com elas.
Por essa razão, Jesus escolhe duas figuras contrastantes para a Sua parábola: O fariseu, representante da elite religiosa da época, e o cobrador de impostos, visto como um traidor do seu povo por servir aos opressores romanos e, portanto, considerado um dos piores pecadores. Ao colocar esses dois extremos lado a lado, Jesus provoca um choque de realidade nos religiosos que O ouviam — um choque que todos nós precisamos receber, pois, sem ele, jamais
conseguiremos realizar um autoexame verdadeiro e humilde diante de Deus.
REFLITA: Quando você faz um autoexame, quais são as influências que mais dificultam ver a si mesmo com verdade? Que atitudes práticas podem nos ajudar a manter Cristo como padrão e não as pessoas ao nosso redor? Como a convivência na igreja pode tanto fortalecer quanto distorcer nossa autopercepção espiritual? O que você precisa mudar para permitir que o Espírito Santo corrija sua forma de se avaliar e te transforme segundo o ideal de Deus?
1. O PERIGO DA FALSA AUTOAVALIAÇÃO
📖 11 O fariseu ficou de pé e orou sozinho, assim: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou avarento, nem desonesto, nem imoral como as outras pessoas. Agradeço-te também porque não sou como este cobrador de impostos. 12 Jejuo duas vezes por semana e te dou a décima parte de tudo o que ganho.” (Lucas 18:11-12 NTLH)
Nesses versos, o fariseu se coloca de pé — uma postura que, no contexto da época, simbolizava orgulho, vaidade e senso de superioridade espiritual. Sua oração é centrada em si mesmo: Ele agradece a Deus, mas apenas para exaltar suas próprias virtudes e se comparar aos outros, especialmente ao cobrador de impostos, que estava ao seu lado.
Da mesma forma, muitas pessoas hoje, quando são perguntadas sobre o conteúdo de suas orações, respondem com certo orgulho espiritual, dizendo: “Eu só agradeço a Deus por tudo.” Embora pareça uma resposta humilde, ela pode esconder uma atitude semelhante a do fariseu — a de quem quer demonstrar ser um “supercrente”, alguém espiritualmente superior e autossuficiente.
📖 Então Jesus disse a eles: —Para as pessoas vocês parecem bons, mas Deus conhece o coração de vocês. Pois aquilo que as pessoas acham que vale muito não vale nada para Deus. (Lucas 16:15 NTLH)
Jesus deixa claro que Deus não se impressiona com a imagem que construímos diante das pessoas, nem com as obras que realizamos apenas para manter essa imagem. Ele conhece as motivações, intenções e propósitos por trás de cada ação.
Assim, para Deus, o que realmente tem valor não é o que fazemos, mas o porquê fazemos. Mesmo que outros sejam abençoados por meio de nós, se nossas motivações forem o orgulho, a vaidade ou o desejo de reconhecimento, nossas ações perdem valor espiritual. Deus pode usar nossa vida para abençoar pessoas e, ainda assim, reprovar nossa atitude interior, pois “o Senhor detesta os orgulhosos de coração” (Pv. 16:5).
📖 Todos nós nos tornamos impuros, todas as nossas boas ações são como trapos sujos. Somos como folhas secas; e os nossos pecados, como uma ventania, nos carregam para longe. (Isaías 64:6 NTLH)
Isaías nos lembra que, diante de Deus, somos todos pecadores e impuros. Mesmo as nossas boas obras, quando contaminadas pelo orgulho ou pela autossuficiência, perdem seu valor espiritual. Por isso, precisamos reconhecer humildemente nossa dependência de Deus, permitindo que Ele purifique nossas intenções e nos ensine a servi-Lo com um coração quebrantado.
REFLITA: Quando você ora, seu foco tem sido mais em agradecer o que você faz ou reconhecer quem você é diante de Deus? Você já percebeu momentos em que comparou sua vida espiritual com a de outras pessoas? O que isso produziu em seu coração? De que forma podemos desenvolver uma autoavaliação mais verdadeira e humilde diante de Deus? Como a lembrança de que Deus “conhece o coração” (Lc. 16:15) deve influenciar nossas motivações no serviço cristão? Que atitudes práticas podem ajudar você a vencer o orgulho e cultivar um coração quebrantado diante de Deus?
2. A POSTURA CORRETA DIANTE DA AUTOAVALIAÇÃO
📖 13—Mas o cobrador de impostos ficou de longe e nem levantava o rosto para o céu. Batia no peito e dizia: “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!” 14E Jesus terminou, dizendo: —Eu afirmo a vocês que foi este homem, e não o outro, que voltou para casa em paz com Deus. Porque quem se engrandece será humilhado, e quem se humilha será engrandecido. (Lucas 18:13-14 NTLH)
Nesses versos, vemos que o cobrador de impostos adota uma postura completamente oposta a do fariseu. Ele ficou de longe, reconhecendo que não era digno de estar na presença de Deus; não levantava o rosto, pois se sentia envergonhado diante da santidade divina; e batia no peito, gesto que expressava profundo arrependimento e desespero por misericórdia.
Suas palavras — “Ó Deus, tem pena de mim, pois sou pecador!” — refletem exatamente o que seu corpo expressava em gestos. Seu ser inteiro — mente, coração e corpo — estava voltado para o arrependimento. Ele não apresentava méritos, obras ou justificativas, apenas reconhecia sua culpa e clamava pela compaixão de Deus.
Da mesma forma, nós também precisamos reconhecer quem somos diante de Cristo. Não somos dignos de Sua presença nem merecedores de Sua misericórdia, mas devemos nos aproximar com um coração quebrantado, confiando plenamente na graça divina, que perdoa e restaura.
Jesus deixa claro que foi o cobrador de impostos que saiu justificado e em paz com Deus, e não o fariseu. O fariseu se considerava bom demais para precisar de Deus; o cobrador de impostos se reconhecia mau o suficiente para depender totalmente da misericórdia divina — e é justamente essa dependência que o colocou no centro da graça.
📖Pois o Altíssimo, o Santo Deus, o Deus que vive para sempre, diz: “Eu moro num lugar alto e sagrado, mas moro também com os humildes e os aflitos, para dar esperança aos humildes e aos aflitos, novas forças.” (Isaías 57:15 NTLH)
Esse texto explica por que o cobrador de impostos foi abençoado. Ele revela algo extraordinário: Deus habita tanto no mais alto e santo lugar quanto no coração do humilde e aflito pelas misericórdias divinas. O coração quebrantado é, para Deus, um lugar sagrado — digno de Sua presença e favor, tanto quanto o próprio Céu.
Portanto, quando reconhecemos quem somos diante de Deus, lamentamos nossa condição e confessamos nossa incapacidade de nos transformar sozinhos, então abrimos espaço para que Deus habite em nós, cuide de nossa vida e nos introduza na esfera do Seu Reino. Como Jesus declarou: “Felizes os (pobres de espírito, os que choram, os humildes), porque (deles é o Reino dos Céus, serão consolados, receberão o que Deus tem prometido).” (Mateus 5:3–5)
📖 8 Se dizemos que não temos pecados, estamos nos enganando, e não há verdade em nós. 9 Mas, se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é correto: ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade. 10 Se dizemos que não temos cometido pecados, fazemos de Deus um mentiroso, e a sua mensagem não está em nós. (1 João 1:8-10 NTLH)
A verdadeira autoavaliação diante de Deus não nos leva à autodefesa, mas à confissão. Quem se humilha diante de Deus é exaltado — não por méritos, mas por graça.
REFLITA: Quando foi a última vez que você se aproximou de Deus com um coração quebrantado, reconhecendo sua necessidade de perdão? Em suas orações, você tende a agradecer mais pelo que “faz de bom” ou a clamar por misericórdia e transformação? O que significa, na prática, “viver com um coração humilde e aflito” diante de Deus? Você tem a tendência de se comparar com os outros ou de se avaliar à luz da santidade de Deus? Como podemos cultivar diariamente a humildade que atrai a presença de Deus (como em Isaías 57:15)? Que passos práticos você pode dar hoje para viver mais consciente da graça e menos confiante em si mesmo?
3. SIGA O MODELO DE CRISTO
Na parábola que meditamos, embora o cobrador de impostos tenha saído abençoado — pelos motivos já mencionados — e nós também possamos ser abençoados pelos mesmos motivos, isso não representa o ponto final de nossa jornada com Cristo, mas apenas o início do processo de regeneração e transformação espiritual.
📖 Sigam o meu exemplo como eu sigo o exemplo de Cristo. (1 Coríntios 11:1 NTLH)
Nesse versículo, o apóstolo Paulo revela uma atitude que todo discípulo deve ter: Ele seguia o exemplo de Cristo e convidava os outros a fazerem o mesmo. O propósito espiritual de Deus para nossas vidas — e para a Sua Igreja — é que alcancemos a maturidade espiritual de Cristo, refletindo Seu caráter, amor e santidade em todos os nossos relacionamentos.
📖14 […] Pois eu sei de onde vim e para onde vou, mas vocês não sabem de onde vim, nem para onde vou. 15Vocês julgam de modo puramente humano; mas eu não julgo ninguém. (João 8:14b-15 NTLH)
Jesus deixa claro que muitos de Seus ouvintes não O conheciam verdadeiramente, embora fossem estudiosos da Lei. Eles conheciam as Escrituras, mas as usavam apenas para julgar o certo e o errado — sem buscar conhecer Aquele de quem a Bíblia realmente fala. Da mesma forma, corremos o risco de conhecer a Bíblia apenas como um código moral ou um meio de obter bênçãos, e não como o caminho que nos conduz ao conhecimento íntimo da Pessoa de Cristo.
Quando estudamos a Palavra de Deus com o propósito de conhecer Aquele que ela revela, passamos a conhecer a Jesus e o Seu padrão moral e espiritual: Amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio próprio (Gálatas 5:22-23).
Como consequência, Ele também nos mostra quem realmente somos por natureza: Orgulhosos, vaidosos, egoístas, imorais, impuros, idólatras, briguentos, assassinos, ciumentos, invejosos, adúlteros e glutões (Gálatas 5:19-21). Dessa forma, compreendemos que, se desejamos nos tornar semelhantes a Cristo, precisamos negar a nossa natureza humana e viver segundo o Espírito (Gálatas 5:16-18).
Cada vez que dizemos “não” à carne, o caráter de Cristo é formado em nós. Mas, para resistirmos à nossa natureza humana, precisamos usar a Palavra de Deus como arma de combate espiritual. O Espírito Santo tem a missão de nos lembrar das verdades da Palavra sempre que precisarmos aplicá-las, mas para isso é indispensável que já as conheçamos previamente (João 14:26).
À medida que nos submetemos à Palavra e à ação do Espírito Santo, Ele vai produzindo em nós a natureza de Cristo, chamada de Fruto do Espírito. Devemos perseverar nesse processo até que esse fruto se manifeste plenamente em nós e através de nós, até que a nossa natureza humana seja completamente dominada e transformada pela presença de Cristo.
Portanto, para que sejamos capazes de realizar uma autoavaliação verdadeira e equilibrada, precisamos conhecer profundamente a Palavra de Deus — não apenas em teoria, mas de modo que sejamos capazes de aplicá-la em nossa vida diária.
À medida que a Palavra nos revela quem é Cristo, passamos a reconhecê-Lo como o padrão com o qual devemos nos comparar. Assim, conseguimos identificar em nós tudo o que precisa ser transformado, e somos continuamente impulsionados a negar a nossa natureza humana. Nesse processo, o Espírito Santo vai produzindo em nós o Seu fruto — o caráter de Jesus — até que Ele seja plenamente formado em nosso interior.
REFLITA: O que tem motivado mais o seu estudo da Bíblia: conhecer a Deus ou apenas aprender o que é certo e errado? Em quais áreas você percebe mais resistência da sua natureza humana em se submeter à vontade de Deus? Como você pode praticar o “seguir o exemplo de Cristo” nas suas relações diárias (família, trabalho, ministério, etc.)? Que atitudes práticas podem ajudar você a se submeter mais à ação transformadora do Espírito Santo? Que tipo de autoavaliação você costuma fazer: baseada na comparação com outras pessoas ou em comparação a Cristo? Como a humildade e o arrependimento podem contribuir para o processo de transformação interior? O que significa, para você, “perseverar até que o caráter de Cristo se manifeste plenamente”?
Que Deus nos abençoe!