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Na verdade, eu quero dar seguimento ao ensino que compartilhei com vocês na última vez em que estive aqui.
Na ocasião, procurei retratar a condição atual da igreja, que devido a ensinamentos distorcidos das Escrituras Sagradas, praticados por muitos lideres e pastores de igreja, transformaram o cristianismo num mero produto comercial, onde o que mais se fala é sobre prosperidade financeira, sucesso profissional, realização pessoal e pouco ou quase nada se ensina sobre: o sacrifício pessoal para alcançar a vontade de Deus, o esquecer seus próprios interesses, o amor ao próximo, o viver em humildade e submissão aos mandamentos divinos e a nossa esperança na eternidade.
Tudo isso não é mais ensinado nas igrejas e o fruto dessa rejeição aos ensinamentos de Jesus fez nascer uma geração de pessoas avarentas, materialistas, imorais orgulhosas espiritualmente, que se dizem cristãs, porem sem convicções e identidade cristãs, sem evidencias de uma vida transformadas, sem frutos espirituais e sem o mínimo de conhecimento teológico, essas pessoas enchem as igrejas atrás de bênçãos, milagres, curas e movidos pelos seus interesses pessoais, pedem tudo a Deus como se Ele fosse seu subserviente, seu empregado.
Ainda relembrando a mensagem passada, procurei fazer um paralelo entre o cristianismo moderno e o cristianismo primitivo, e mostrar como os cristãos primitivos, do primeiro e segundo século, viviam e combatiam as filosofias mundanas de sua época, e que por sinal não era diferente da nossa cultura nos dias de hoje, que está destruindo a nossa fé, nosso estilo de vida e nossa identidade cristã, por não serem combatidas com o conhecimento e obediência à Palavra de Deus.
Mostrei também as marcas de uma igreja comprometida com o Reino de Deus, são elas:
1. A separação do mundo. (João 15: 18-19 NTLH)
2. O amor sacrificial. (João 13: 34-35 NTLH)
3. A confiança em Deus. (João 14:1; 21 NTLH).
Apresentei relatos e cartas de pensadores e filósofos da época, de pessoas comuns do povo, testemunhando o estilo de vida destes cristãos primitivos e como combatiam a cultura mundana, impedindo que esta entrasse para o seio da igreja.
Então, por que será que eles eram capazes de viver de uma maneira que agradava a Deus, sem se deixar influenciar por sua cultura, enquanto nós achamos tão difícil viver assim?
Que poder é esse que eles tinham e nós não temos?
Então, comecei a buscar respostas na Palavra de Deus e nos escritos cristãos e encontrei três razões fundamentais que ajudavam os cristãos a viver na dependência de Deus e a rejeitar a influência da cultura mundana de sua época:
1) O papel apoiador da Igreja (como a Igreja ajudava os cristãos a crescerem espiritualmente).
John Donne, poeta cristão do século XVI, escreveu: “Nenhum homem é uma ilha”. Os seres humanos são naturalmente sociáveis e tem a tendência de se adaptar à sociedade ao seu redor. Por isso é tão difícil nadar contra a maré da nossa cultura. Mas já houve tempos na sociedade humana em que grandes números de pessoas rejeitaram os valores e o estilo de vida de sua cultura.
O movimento hippie dos anos 1960 é um grande exemplo disso. Durante a década de 1960, milhares de jovens – a maioria da classe média – rejeitaram a busca materialista e a moda ditada pela maioria da sociedade. Em vez disso, buscavam um estilo de vida diferente.
O que fez com que aqueles jovens saíssem dos moldes culturais da época e se tornassem inconformistas? A resposta está no fato de que eles na verdade não eram inconformistas, mas se comportavam como uma sociedade diferente.
Esse era um dos segredos dos cristãos primitivos. Eles foram capazes de renunciar às atitudes, costumes e entretenimento mundanos porque foram convencidos por Deus e aceitaram ser guiados pelos princípios de uma cultura diferente, a cultura do Reino de Deus. Milhares de cristãos compartilhavam os mesmos valores, atitudes e princípios de entretenimento. Tudo o que o cristão individual tinha que fazer era se ajustar ao estilo de vida que eles, cristãos, praticavam. Sem o apoio da igreja, viver uma vida espiritual teria sido infinitamente mais difícil.
Há muitos “cristãos” que acham que não precisam pertencer a uma igreja local, que preferem ficar “soltos”, visitando algumas igrejas e servindo a Deus do seu jeito, sem submeter-se a uma liderança. Saiba que este tipo de comportamento Deus condena, pois Ele criou a Igreja para ser a Sua família e espera que seus filhos se comprometam com os alvos e propósitos do Seu Reino, pois do contrário, estes se tornam presas fáceis da cultura e do estilo de vida mundano que os cercam.
Em Hebreus 10:25, a Palavra de Deus nos adverte: “Não abandonemos, como alguns estão fazendo, o costume de assistir as nossas reuniões. Pelo contrário, animemos uns aos outros e ainda mais agora que vocês vêem que o dia está chegando”. (Hebreus 10:25 NTLH)
Cipriano observou:”Quebre um galho de uma árvore e depois de quebrado ele não será capaz de brotar. Desvie o riacho de sua fonte e logo ele secará”.(Cipriano. Sobre a Unidade da Igreja).
A igreja primitiva era uma igreja disciplinada. Mas, ao contrário de alguns grupos religiosos que apareceram depois, os primeiros cristãos não tentaram criar leis para alcançar a aceitação de Deus por meio de um monte de regras e regulamentos. Em vez disso, eles se baseavam nos ensinamentos de Cristo, no exemplo correto de seus líderes e no poder transformador do Espírito Santo. As igrejas que dependem de listas de regras para produzir santidade, fatalmente acabará produzindo fariseus, religiosos vazios, sem conhecimento da vontade de Deus e sem o poder do Espírito Santo. Por essa razão, a igreja primitiva enfatizava que os novos convertidos deveriam mudar de dentro para fora. A aparência exterior era considerada sem valor se não refletisse o que estava acontecendo dentro da pessoa.
Os Cristãos primitivos não se iludiam pelo simples fato de alguém freqüentar uma igreja, de ler as Escrituras Sagradas, de cantar, de orar, pois a aparência exterior não tinha significado se no interior daquela pessoa não houvesse uma transformação de caráter e o desejo de fazer a vontade de Deus.
Clemente explicou: “Deus não dá coroa para aqueles que se abstém do pecado por impulso, mas àqueles que se abstém por escolha própria. É impossível alguém viver uma vida justa se não tiver escolhido fazê-lo. Aquele que é feito justo pela exigência dos outros não é verdadeiramente justo… É a liberdade de cada pessoa que produz a verdadeira retidão e revela a maldade real”. (Clemente, Maximus. Sermão).
Muitas pessoas que estão dentro de igrejas, não se converteram verdadeiramente, porque não conheceram a Deus no seu íntimo, não receberam a Sua Vida e nem o Poder do Seu Reino, não reconheceram a sua falência espiritual e moral diante de Deus, e nem se lamentaram por sua condição humana, e nem mesmo desejaram fazer a vontade de Deus, elas somente foram convencidas psicologicamente a aceitar os hábitos e costumes cristãos, porém, vivem vazias, sem a convicção da realidade do Reino de Deus.
Certa vez Jesus disse aos fariseus e mestres da Lei: “Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro estão cheios de mentiras e pecados”. (Mateus 23: 28 NTLH)
A segunda razão fundamental que ajudava os cristãos a viver na dependência de Deus e a rejeitar a influência da cultura mundana de sua época era:
2) A mensagem da cruz (o conhecimento da palavra de Deus)
Ninguém gosta de sofrer. É assim que queremos que o cristianismo seja. Porém, Jesus disse aos seus discípulos: “Não serve para ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar. Quem procura os seus próprios interesses nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo, porque é meu seguidor, terá a vida verdadeira”. (Mateus 10:38,39 NTLH)
Apesar do que Jesus nos disse, a mensagem da cruz não é muito popular hoje em dia. Quando falamos do evangelho às pessoas, raramente mencionamos as palavras de Jesus sobre ter que carregar a cruz. Na verdade, damos a impressão que uma vez que a pessoa aceita a Cristo sua vida será repleta de felicidade e paz. Mas isso não é verdade, pois quando conhecemos a Cristo e a Sua Palavra, esta nos fere por dentro, apontando os nossos erros, fragilidades e nos dando a correção de conduta para nos ajustarmos aos termos divinos. Inicia-se então, uma luta interior entre o Espírito de Deus e a sua natureza humana.
O Apóstolo Paulo explica sobre esta luta travada no interior de cada cristão em Gálatas 5:17: “Porque o que a nossa natureza humana quer é contra o que o Espírito quer, e o que o Espírito quer é contra o que a natureza humana quer. Os dois são inimigos, e por isso vocês não podem fazer o que vocês querem” (Gálatas 5:17 NTLH).
Nos tempos da igreja primitiva, a mensagem que os novos convertidos ouviam era bem diferente : “ Ser cristão é sofrer”. A declaração de Lactâncio era bem comum:
“Aquele que escolhe viver bem pela eternidade, terá uma vida de desconforto no presente. Estará sujeito a todo tipo de fardo e problema aqui na Terra, para que no fim receba o consolo celeste. Por outro lado, aquele que escolhe viver bem no presente vai ficar mal durante toda a eternidade”. (Cipriano. Epístola a Eucrates, epístola 60).
Inácio, Bispo da Igreja de Antioquia e companheiro do apóstolo João, foi preso por causa de seu testemunho como cristão. Enquanto estava sendo levado para Roma para ser executado, escreveu cartas de advertência e encorajamento para várias congregações cristãs. Ele disse a uma dessas igrejas: “Portanto é necessário não somente ser chamado pelo nome de cristão, mas ser um cristão de verdade… Se não estivermos dispostos a passar pelo mesmo sofrimento de Cristo, sua vida não está em nós”.
Para outra congregação, Inácio escreveu:
“Que tragam o fogo e a cruz. Que soltem as matilhas de animais selvagens. Que quebrem e desloquem meus ossos e cortem meus membros. Que mutilem todo o meu corpo. Na verdade, que tragam todas as torturas diabólicas de Satanás. Mas deixem que eu me apegue a Cristo!… Eu Prefiro morrer por Cristo que ganhar todos os reinos deste mundo”. (Inácio – Epístola aos Romanos, capítulo 5)
Logo depois de escrever essas palavras, Inácio foi levado diante de uma multidão enlouquecida no Coliseu de Roma, onde foi despedaçado por animais selvagens.
Em sua primeira apologia, Tertuliano relembrou aos romanos que a perseguição deles apenas fortalecia os cristãos:
“Quanto mais vocês nos matam, mais crescemos em quantidade, pois o sangue cristão é como uma semente… Pois quando pensam sobre o assunto, qual de vocês não ficam curioso em saber o que está por trás disso tudo? E quando perguntam por aí, quem é que não acaba adotando nossos ensinamentos? E depois que os adotam, como não sofrer também para receber conosco a glória de Deus?” (Tertuliano – Apologia, capítulo 50).
Um dos problemas da igreja atual é que raramente ouvimos o Evangelho genuíno, verdadeiro, sem maquiagem, sendo pregado. Geralmente os sermões falam sobre as bênçãos de ser cristão, mas quase nunca mencionam o sofrimento por Cristo.
Estamos tão distantes da mensagem da igreja primitiva, que a maioria de nós não tem a menor idéia do que é sofrer por Cristo. Achamos que quando enfrentamos as mesmas tribulações que todo mundo enfrenta, estamos sofrendo por Cristo.
Os cristãos primitivos aceitavam o sofrimento físico e psicológico, porque seus olhos estavam fixos na eternidade. Por mais que o sofrimento durasse cinquenta ou sessenta anos, não seria nada se comparado à promessa de viver ao lado de Jesus na eternidade.
A terceira razão fundamental que ajudava os cristãos a viver na dependência de Deus e a rejeitar a influência da cultura mundana de sua época era:
3) A crença de que a obediência é um trabalho conjunto do homem com Deus.
Os cristãos primitivos não tentavam viver uma vida de comprometimento com Deus simplesmente por suas próprias forças, pois tinham consciência da necessidade de um poder divino para vencer o mal.
Mas isso não é nenhuma novidade. Os cristãos de todos os tempos sabem que precisam da ajuda de Deus para seguir Seus mandamentos.
O que geralmente acontece é o seguinte: no começo, caminhamos lado a lado com Deus, dependendo totalmente do seu Poder. Mas, com o passar do tempo, começamos a escorregar na vida espiritual, nos afastando lentamente de Deus. Isso normalmente acontece internamente, pois na aparência somos a mesma pessoa. Apesar de ainda fazermos as coisas que as pessoas que dependem de Deus fazem, nossas orações começam a se tornar cada vez mais frias e formais. Talvez ainda leiamos a Bíblia, mas nossa mente está pensando em outros interesses. Por fim, acabamos dependendo apenas de nossos próprios esforços para continuar “firmes” na fé.
Já os cristãos primitivos, não acreditavam que poderiam vencer todas as suas fraquezas e permanecer obedientes a Deus dia após dia apenas com sua própria força. Precisavam buscar poder em Deus. Mas não era apenas uma questão de buscar a Deus e esperar sentado.
Eles acreditavam que a caminhada com Deus é um trabalho em conjunto. O cristão deve estar disposto a fazer sacrifícios, colocando todo seu esforço e sua alma nesse trabalho. Mas também tem que reconhecer que precisa da ajuda de Deus.
A Igreja primitiva acreditava que o cristão devia desejar e buscar a ajuda divina ardentemente. Mas não era uma mera questão de pedir essa ajuda só uma vez, na verdade, era um processo contínuo.
Então, os cristãos consideravam a retidão pessoal como uma obra conjunta de Deus com o homem. Havia uma fonte de poder infinita em Deus e o segredo era saber tirar proveito desse poder. A vontade tinha que vir do próprio cristão.
Como bem lembrou Orígenes, “não somos marionetes de madeira que Deus manipula ao seu bel prazer. Somos seres humanos capazes de desejar a Deus e responder a Ele”. Temos que estar dispostos a sofrer uma dolorosa “perseguição interior”, e matar nossos maus hábitos não deixa de ser um processo doloroso. Assim, se não estivermos dispostos a sofrer interiormente, lutando contra nossos pecados, então Deus não nos dará poder para vencê-los.
O Apóstolo Paulo diz em Romanos 8: 13 NTLH: “Porque, se vocês viverem de acordo com a natureza humana, vocês morrerão espiritualmente; mas, se pelo Espírito de Deus vocês matarem as suas ações pecaminosas, vocês viverão espiritualmente”.
Vamos ler também: 1 Coríntios 9:27.
Algumas pessoas podem se sentir incomodadas com esse ensinamento dos cristãos primitivos. Mas como disse Jesus: ”Mas, se eu faço, e vocês não crêem em mim, então creiam pelo menos nas coisas que faço. E isso para que vocês fiquem sabendo de uma vez por todas que o Pai vive em mim e que eu vivo no Pai”. (João 10:38 NTLH)
Antes de menosprezar a teologia dos cristãos primitivos, é melhor que se tenha uma boa explicação para a fé que tinham, pois não podemos negar o fato de que eles eram fortes espiritualmente.
Nem os romanos pagãos argumentavam contra isso, como declarou Lactâncio:
“Quando as pessoas vêem que alguém está dilacerado por tantas torturas diferentes e ainda assim permanece firme, mesmo quando seu torturador já está esgotado. Passam a crer que o compromisso de tantas pessoas e a fé persistente dos moribundos tem algum significado. Então percebem que apenas a perseverança humana não seria capaz de suportar todas essas torturas sem a ajuda de Deus. Ainda os ladrões e homens fortes não são capazes de agüentar essas torturas… Mas aqui entre nós, jovens e delicadas mulheres, isso sem falar dos homens, superam silenciosamente a seus torturadores. Nem mesmo o fogo é capaz de
lhes fazer soltar um único gemido… Essas pessoas, os jovens e o sexo frágil, suportam a mutilação e queima de seus corpos como se não tivessem outra opção. Mas, se quisessem, poderiam facilmente evitar tudo isso (simplesmente negando a Cristo). Mas suportam tudo com prazer, pois colocam sua confiança em Deus”. (Lactâncio – Instituições divinas – Livro 5 capítulo 13)
O apóstolo Paulo ensina o seguinte:
Portanto, prestem atenção na sua maneira de viver. Não vivam como os ignorantes, mas como os sábios. Os dias em que vivemos são maus; por isso aproveitem bem todas as oportunidades que vocês têm. Não ajam como pessoas sem juízo, mas procurem entender o que o Senhor quer que vocês façam. (Efésios 5:15-17 NTLH)
Por que Deus nos pede essas coisas?
• Porque formos salvos de uma vida errada e sem direção;
• Porque fomos chamados para sermos usados por Ele;
• Porque prestaremos contas de nossas decisões a Ele.
Portanto:
1 – Tenha uma disposição para agradar a Deus com as suas atitudes;
Quem me enviou está comigo e não me deixou sozinho, pois faço sempre o que lhe agrada. (João 8:29 NTLH)
2 – Tenha prazer em se esforçar para agir a semelhança de Jesus;
Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que vivo agora, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim. (Gálatas 2.20 NTLH)
3 – Faça com que sua intimidade com Deus, se transforme em serviço cristão ou ministério.
Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. (Marcos 10:45 NTLH)
Em suma, a igreja atual poderia aprender lições valiosas com os cristãos primitivos, pois seus testemunhos testificam uma vida de obediência, temor a Deus, e uma verdadeira esperança na Eternidade ao lado de Deus, mesmo em circunstâncias adversas.
Que Deus os abençoe!