2 Pedro 2:20-22
Texto Base:
20 Portanto, aqueles que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas, ficam no fim em pior situação do que no começo. 21 Pois teria sido muito melhor que eles nunca tivessem conhecido o caminho certo do que, depois de o conhecerem, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam. 22 O que aconteceu a essas pessoas prova que são verdadeiros estes ditados: “O cachorro volta ao seu próprio vômito” e “A porca lavada volta a rolar na lama.” (2 Pe.2:20-22 NTLH)
Nos versículos anteriores, o apóstolo Pedro descreve aqueles (falsos líderes) que afirmavam serem cooperadores ou servos de Deus, mas, na verdade, eram escravos do pecado, pois o homem é escravo daquilo que o governa ou que exerce domínio sobre a sua vida. Pedro revela o que escravizava esses falsos líderes:
- Eles eram escravos do dinheiro e usavam de dissimulações para explorar pessoas. (2 Pe.2:3,14)
- Eles eram escravos das paixões da carne, procurando seduzir mulheres que se encontravam emocionalmente vulneráveis. (2 Pe.2:10,14)
- Eles eram escravos do orgulho, promovendo a si mesmos em todo o tempo. (2 Pe.2:10-12)
Muitos comentaristas afirmam que o texto trata de uma pessoa verdadeiramente convertida, mas que possui apenas um conhecimento da Verdade divina e a abandona. No entanto, eu penso que essa afirmação não corresponde à verdade, pois o nosso texto base fala sobre o trabalho da graça divina, ao nos libertar ou “escapar” das imoralidades propagadas pelo mundanismo.
Pedro registra as ações dos falsos líderes, de “seres humanos” que abandonaram os caminhos de Deus, e se isso aconteceu a eles, por que o mesmo não pode ocorrer conosco? Portanto, sem me ater ao fato de Pedro estar falando sobre líderes religiosos, eu faço uso do texto para que não sigamos o exemplo de tais pessoas.
O texto nos diz que esses homens “conheceram” a Verdade e assumiram funções e posições de autoridade ou de liderança na Igreja, mas, aos poucos, voltaram às práticas carnais ou imorais e incentivavam os membros da Igreja a praticarem uma falsa liberdade. Mas isso é possível? Claro que é!
O Velho Testamento nos dá o exemplo dos israelitas que, no deserto do Sinai, procuraram substituir a Pessoa de Deus por um bezerro de ouro e se envolveram em práticas imorais. Eles receberam a graça divina, a fim de escaparem do Egito, mas nela não permaneceram. Isso se tornou evidente pelas suas ações.
1. A graça, em sua primeira ação, nos liberta da morte espiritual para sermos livres em Cristo
Jesus, por ocasião da Sua passagem em uma sinagoga em Nazaré e, a respeito de Si Mesmo, leu uma passagem do livro de Isaías, na qual dizia o seguinte:
18 “O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos 19 e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo.” (Lc.4:18,19 NTLH)
Liberdade em Cristo não significa que estamos livres para vivermos como bem entendemos, pois essa atitude é própria do espírito do pecado. A liberdade que Jesus oferece é a que nos liberta do estado da “morte espiritual”, ou seja, de uma vida afastada de Deus e dos Seus propósitos em e por meio de Cristo. Significa que Nele somos libertos, a fim de conhecermos e vivermos para a glória de Deus – para O expressarmos aos que ainda vivem no ambiente mundano e mortal, no qual vivíamos e que nele éramos escravos da desobediência. (vd. Ef.2:1-3) Este texto de Efésios nos diz sobre como vivíamos antes de Cristo:
- Nós éramos desobedientes, vivíamos na prática de pecados, pela razão de estarmos espiritualmente mortos. (Ef.2:1)
- Seguíamos o mau caminho propagado pelo mundanismo. (Ef.2:2)
- Fazíamos a vontade dos esquemas satânicos e, por isso, nós éramos desobedientes a Deus. (Ef.2:2)
- Vivíamos de acordo com os desejos da nossa natureza humana. (Ef.2:3)
- Estávamos destinados a sofrermos o castigo eterno. (Ef.2:3)
Portanto, segundo o que lemos em Efésios 2:1-3, a fim de que não soframos o castigo eterno (Inferno), é necessário que abandonemos o mau caminho do mundanismo (uma vida afastada de Deus e contrária à Sua Verdade e propósitos), que nos tornemos cooperadores de Deus em relação aos Seus propósitos e que a vontade divina ocupe o primeiro lugar em nossas vidas, isto é, que o Reino de Deus esteja acima das nossas vontades ou desejos. Esta exposição bíblica significa a verdadeira conversão a Cristo Jesus!
Por meio de Cristo e não por nós mesmos, descobrimos a verdade sobre a natureza humana (acerca do que nos tornamos), sobre Satanás, seus demônios, o mundo, sobre Deus e o nosso compromisso com os Seus propósitos. Por meio da graça divina, nós deixamos de viver em um mundo de fantasias e encaramos a mais pura realidade do sentido da vida. (vd. Jo.8:32)
Os que vivem de acordo com a Verdade de Deus experimentam uma liberdade cada vez maior, pois vão se afastando cada vez mais do mundanismo, mas os que vivem segundo os desejos da natureza humana regridem, voltando aos poucos para o ambiente de onde foram resgatados por Deus e o seu estado final se torna pior que o primeiro. (comp. Mt.12:43-45)
20 Portanto, aqueles que chegaram a conhecer o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e que escaparam das imoralidades do mundo, mas depois foram agarrados e dominados por elas, ficam no fim em pior situação do que no começo. (2 Pe.2:20 NTLH)
2. A graça regenera o nosso interior para reformar nossas ações ou atitudes, a fim de que sejamos amigos de Deus
A regeneração (revificação, a “Nova Vida”) transforma o interior e essa transformação altera as nossas atitudes, tanto em relação a Deus como ao próximo. No entanto, as tendências pecaminosas não desaparecem, pois elas continuam dentro de nós, na nossa natureza humana.
A regeneração em nosso interior é verdadeira quando nos submetemos e seguimos em obediência a vida de Cristo que habita no nosso espírito. Este é o princípio da santificação, isto é, vivemos uma vida dedicada ao serviço de Cristo, que vive e deseja atuar por meio de nós. Significa colocar em prática o domínio próprio (temperança) para recusarmos o mal, a fim de nos comprometermos com os propósitos da vida de Cristo neste mundo. Significa obtermos a vitória sobre o desejo de desobedecermos a Deus!
Jesus disse:
Pois eu desci do céu para fazer a vontade daquele que me enviou e não para fazer a minha própria vontade. (Jo.6:38 NTLH)
Nós nos acostumamos a execrar aquele que comete imoralidades, mas não sentimos profunda tristeza pelo que não tem fome e sede de fazer a vontade de Deus, que não sente paixão pelas almas que estão se perdendo. (vd. Mt.5:6)
É fácil declararmos que um cristão que volta à vida de pecados nunca se converteu. Então, o que diríamos do cristão omisso, aquele que não se dedica ao cumprimento dos “propósitos divinos” em Cristo? A sua conversão a Deus foi verdadeira? Ele é um amigo de Cristo?
Jesus disse:
13 Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida [i.e. dispensa os seus prazeres e vontades] por eles. 14 Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando. (Jo.15:13,14 NTLH)
Jesus não está ordenando que você guarde dias sagrados, sacrifique animais, que celebre festas religiosas, ou que vá a Jerusalém uma vez por ano ao Muro das Lamentações, mas que aprenda a negar-se a si mesmo, a fim de fazer a vontade de Deus, visando dar ao próximo o exemplo da verdadeira vida espiritual e moral.
Em todas as páginas da Bíblia vemos homens e mulheres que receberam a graça de Deus e foram libertos dos poderes que os escravizavam e eles permaneceram na Sua graça perseverando em “amizade” com Ele, ou seja, procurando cooperar com os propósitos divinos, fazendo a Sua vontade. Alguns se tornaram ricos e outros pobres. Muitos viveram até o fim dos seus dias e outros foram martirizados, mas todos os que viveram como “amigos” de Deus ganharam o Reino dos Céus!
Infelizmente, como dizem os ditados: “O cachorro volta ao seu próprio vômito” e “A porca lavada volta a rolar na lama.” A razão de terem se encontrado nessa condição é que conheceram a Cristo e a Verdade divina, mas preferiram, por vontade própria, voltarem atrás e se afastarem do mandamento sagrado que receberam! O resultado é que no fim ficaram em pior situação do que no começo.
O que deve nos importar, não é se o texto está falando de líderes religiosos, mas de seres humanos que conheceram a graça de Deus e que por não lutarem contra os desejos da natureza humana, preferiram tratar tanto a vida espiritual como a moral longe dos valores e princípios estabelecidos por Deus e, aos olhos Dele, se colocaram numa condição infame e tendo o próprio vômito como seu alimento.
Que nós não sigamos o exemplo dos desobedientes, mas que nos aproximemos e andemos com aqueles que demonstram serem “amigos” de Jesus, a fim de comermos do mesmo alimento que saboreiam, ou seja, do “Pão da Vida”, como também termos em nós a sua mesma fome e sede para fazermos a vontade de Deus!
Que Deus nos abençoe!