Texto base:
2 Timóteo 4:10;14-16
Nas últimas semanas, Deus vem nos ensinando, por meio da vida do nosso pastor Walter, a discernir se as nossas amizades, tanto de dentro como fora da igreja, são saudáveis, verdadeiras, honestas ou mundanas, pois elas podem, de acordo com a sua influência, nos aproximar ou afastar de Deus.
Certamente é um ensino valioso, ainda mais em nossos dias, pois interagimos ao mesmo tempo com diversas pessoas em qualquer lugar do mundo, além de convivermos com todo tipo de pessoas ao nosso redor, e dentre elas, algumas temos mais afinidades, outras menos, outras se tornaram nossas amigas, e dentro destes relacionamentos interpessoais, encontramos uma infinidade de situações e conflitos.
Deus quer nos ajudar, por meio do ensino da Verdade, a distinguir se uma amizade é verdadeira ou falsa, se ela é pura ou interesseira, para que não sejamos levados ao erro, ao engano, e como conseqüência, ao afastamento da vontade de Deus.
Mas, eu quero pontuar sobre um sentimento muito comum quando nos relacionamos com pessoas, e se não soubermos lidar com ele, também podemos nos afastar de Deus e dos Seus planos. Esse sentimento é a decepção. Todos nós, em algum momento, iremos nos decepcionar com pessoas, pois a decepção faz parte da vida e precisamos aprender a lidar com ela.
Talvez você esteja passando por esse sentimento agora. Pode ser que você esteja decepcionado com o rumo que está tomando o seu casamento; talvez você esteja decepcionado com seu marido ou com sua esposa, com as atitudes de seu filho, ou com as conversas e amizades que ele tem mantido.
Pode ser que você esteja decepcionado com um amigo ou algum colega de trabalho, alguém que lhe causou algum desapontamento ou desilusão, ou mesmo esteja decepcionado consigo mesmo ou com alguma circunstância, e você não sabe o que fazer.
Em qualquer situação, o melhor é tentar fazer da decepção um fator que motive alguma ação que nos permita crescer em Cristo Jesus. Então, devemos compreender qual o conselho de Deus para nós ao enfrentarmos esse sentimento tão recorrente em nossas vidas e como devemos agir.
1. A decepção existe porque a imperfeição existe
Devemos ter em mente que todos nós somos seres imperfeitos, limitados e, portanto, passíveis de erros e por isso não devemos nos apoiar ou confiar plenamente em terceiros ou mesmo em nossas próprias capacidades, porque constantemente falhamos com o nosso próximo e até com nós mesmos.
Vamos definir o que é decepção. Decepção é um sentimento de tristeza, de desilusão, de frustração, de insatisfação, que surge quando as expectativas sobre algo ou alguém não se concretizam.
A decepção existe quando há uma diferença entre aquilo que esperávamos e aquilo que realmente aconteceu, seja algo que envolve pessoas, circunstâncias ou até nós mesmos.
Você tinha uma esperança ou expectativa sobre alguém ou uma situação que você acreditava que iria acontecer, mas que no final não saiu como esperado. Você esperava que tal pessoa agiria com honestidade e transparência do mesmo modo como você agia com ela, mas ela agiu totalmente ao contrário de suas expectativas, sendo falsa, desonesta e interesseira.
Na Bíblia, encontramos muitas narrativas que falam sobre decepções, desapontamentos e desilusões. Eu escolhi algumas delas, como a do nosso texto base, onde o apóstolo Paulo narra seu descontentamento em relação às pessoas com as quais ele ajudou em seu ministério.
Vamos então ler e aprender alguns princípios e verdades para colocarmos em prática em situações que nos sentimos decepcionados.
Na segunda carta de Paulo a Timóteo, ele diz assim:
10 Pois Demas se apaixonou por este mundo, me abandonou e foi para a cidade de Tessalônica. 14 Alexandre, o ferreiro, me prejudicou muito; o SENHOR lhe dará a sua recompensa de acordo com o que ele fez. 15 Tome cuidado com ele, pois combateu com muita violência a nossa mensagem. 16 Na primeira vez em que fiz a minha defesa diante das autoridades, ninguém ficou comigo; todos me abandonaram. Espero que Deus não ponha isso na conta deles! (2 Timóteo 4:10a;14-16 NTLH)
Vamos entender o contexto desta passagem, pois ela também retrata o desapontamento e a decepção que Paulo sentiu quando foi abandonado e prejudicado pelos seus companheiros mais próximos.
Esta carta é a segunda de duas cartas que o apóstolo Paulo escreveu para o seu filho na fé, Timóteo. Nela, encontramos Paulo mais uma vez em uma prisão romana, novamente por causa da perseguição de Nero aos cristãos.
Além de estar preso em uma cela fria e fétida, Paulo se encontrava abandonado por quase todos os que lhe eram próximos por causa do medo da perseguição.
Paulo deixa claro a Timóteo o seguinte:
Você já sabe que todos os irmãos da província da Ásia, inclusive Fígelo e Hermógenes, me abandonaram. (2 Tm. 1:15 NTLH)
Quem são esses irmãos da província da Ásia? São pessoas que foram alcançadas para Cristo através do ministério de Paulo. Eram irmãos em Cristo que conheciam o apóstolo e sabiam da sua integridade e do seu caráter, mas devido à perseguição de Roma, eles se acovardaram e o abandonaram.
Você já foi abandonado ou esquecido por alguém que você alcançou para Cristo? Por alguém que você batalhou para ganhar, e na hora que você mais precisava de ajuda, essa pessoa virou as costas para você? Você consegue perceber o nível da decepção que Paulo sentiu?
Vejamos o que Paulo disse ao seu discípulo Timóteo:
Portanto, não se envergonhe de dar o seu testemunho a favor do nosso Senhor, nem se envergonhe de mim, que estou na cadeia porque sou servo dele. (2 Tm. 1:8 NTLH)
Paulo agora está se referindo a Timóteo, o seu companheiro de trabalho mais chegado e mais íntimo. Porém, até ele estava com vergonha do apóstolo e da condição em que ele se encontrava.
Em nosso texto base, Paulo continua relatando sua decepção:
Pois Demas se apaixonou por este mundo, me abandonou e foi para a cidade de Tessalônica. (2 Tm. 4:10 NTLH)
Demas foi um dos parceiros mais próximos de Paulo, que demonstrou um grande comprometimento com a obra do SENHOR antes que a atração do mundo o levasse a abandonar Paulo e o ministério. Demas tinha achado que a atração deste mundo era forte demais, especialmente quando comparada aos perigos e privações da vida com Paulo.
Quantas pessoas entram no ministério e aceitam o chamado de Deus, mas não calculam o preço do discipulado, das suas privações em favor do Reino, e quando olham para o mundo e suas facilidades, logo se iludem e abandonam sua missão e seu chamado?
25 Certa vez uma grande multidão estava acompanhando Jesus. Ele virou-se para eles e disse:
27 Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar. 28 Se um de vocês quer construir uma torre, primeiro senta e calcula quanto vai custar, para ver se o dinheiro dá. 29 Se não fizer isso, ele consegue colocar os alicerces, mas não pode terminar a construção. Ai todos os que virem o que aconteceu vão caçoar dele dizendo: 30 “Este homem começou a construir, mas não pôde terminar!” 33 Assim nenhum de vocês pode ser meu discípulo se não deixar tudo o que tem. (Lucas 14:25; 27-30; 33 NTLH).
Demas não havia calculado direito o preço do discipulado e acabou se rendendo aos prazeres deste mundo e abandonando Paulo. Paulo talvez tivesse grandes expectativas em relação à Demas quanto ao ministério, mas que foram frustradas com a decisão dele em preferir o mundo.
Sabemos que pelo fato de convivermos com pessoas a todo o momento, torna-se inevitável não passarmos por situações de decepção, onde muitas vezes decepcionamos pessoas e outras nos sentimos decepcionados, ou seja, por vezes sofremos por conta de outras pessoas e em outros momentos somos causadores do sofrimento delas.
É mais comum sabermos quando alguém fica decepcionado com outra pessoa, porque muitas vezes tornamos pública aquela situação, mas quando nos sentimos decepcionados com nós mesmos devido aos nossos maus pensamentos, palavras, ações e não agimos segundo os preceitos da Palavra de Deus numa determinada situação, isto deveria nos levar à tristeza e ao arrependimento, mas nem sempre isso ocorre. Preferimos falar mais das falhas de outras pessoas do que dos nossos próprios erros.
Por causa da bondade de Deus para comigo, me chamando para ser apóstolo, eu digo a todos vocês que não se achem melhores do que realmente são. Pelo contrário, pensem com humildade a respeito de vocês mesmos, e cada um julgue a si mesmo conforme a fé que Deus lhe deu. (Romanos 12:3 NTLH)
Muitas vezes a decepção vem para frustrar desejos tolos e sonhos imaturos, que servem mais para nos iludir, como, por exemplo, querer ser uma pessoa rica, poderosa e influente, como um “influencer”, por mera satisfação pessoal, mas por não alcançarmos esses desejos, nos frustramos.
A decepção também atinge nossas boas esperanças e desejos mais legítimos, como, por exemplo, uma pessoa ansiar profundamente por um casamento sólido, feliz e cheio de vida. Outra almeja estudar e se aprofundar no seu conhecimento, mas cresce em meio à pobreza e a oportunidade jamais aparece.
Alguém tem a esperança de se reconciliar com sua mãe ou seu pai e unir toda a família. Outro espera que o filho seja curado de uma doença grave. Mas, a decepção bate à porta. O que fazer?
Eu li a biografia de um pastor alemão chamado Dietrich Bonhoeffer. No final dela o autor relata que na madrugada de 9 de abril de 1945, Bonhoeffer, pastor e um dos líderes da Igreja Confessante, movimento que se opunha ao regime nazista de Adolf Hitler, foi levado nu até o pátio de uma prisão na Alemanha, onde foi ridicularizado, zombado, desprezado e por fim enforcado com uma corda de piano diante de seus opositores.
Ele ainda é uma voz profética para a Igreja e para o mundo, assim como um notável exemplo de fé cristã levada às últimas conseqüências. Mas, antes de sua morte, ele escreveu:
“Ninguém é digno de confiança para uma comunidade se primeiro não tiver sido desiludido, se não tiver matado as próprias ilusões acerca de uma comunidade de pessoas perfeitas e se não tiver sido despertado pela desilusão para seu chamado a amar as pessoas reais que Deus põe ao seu redor.”
Isso serve para líderes de igreja, pastores, condutores de grupos pequenos, líderes de ministério. Você gostaria que sua igreja tivesse somente pessoas perfeitas, generosas, piedosas, que fossem dedicadas, honestas e íntegras?
Você gostaria que o seu pequeno grupo fosse formado de pessoas com uma boa saúde espiritual, moral, emocional e que praticassem tudo o que é compartilhado segundo os preceitos da Palavra de Deus?
Se você não está satisfeito com sua igreja e procura uma que seja perfeita, assim que você fizer parte dela, ela deixará de ser perfeita. Sabe por quê? Porque você também não é perfeito!
2. Aprenda que a perseguição e o abandono farão parte do seu ministério
Vejamos mais uma situação em que o apóstolo Paulo sentiu-se perseguido e decepcionado:
14 Alexandre, o ferreiro, me prejudicou muito; o Senhor lhe dará a sua recompensa de acordo com o que ele fez. 15 Tome cuidado com ele, pois combateu com muita violência a nossa mensagem. 16 Na primeira vez em que fiz a minha defesa diante das autoridades, ninguém ficou comigo; todos me abandonaram. Espero que Deus não ponha isso na conta deles! (2 Tm. 4:14-16 NTLH)
Não se sabe ao certo quem foi Alexandre, o ferreiro, mas Paulo aconselhou Timóteo a tomar cuidado com a oposição violenta dele ao ensino do apóstolo. Provavelmente ele propagava uma falsa doutrina, porém Paulo deixou a vingança nas mãos do Senhor.
Em outra situação, na audiência em que Paulo apresentou sua defesa diante das autoridades romanas, ninguém compareceu para ajudá-lo ou testemunhar a seu favor. Ele foi abandonado à sua própria sorte, julgado à revelia, sem direito de defesa, sem qualquer testemunha ao seu favor e no final foi sentenciado à pena de morte, mas mesmo assim Paulo intercede para que o Senhor não os julgue por esse pecado.
Quando Paulo estava no corredor da morte, aguardando o dia de sua execução, ele já se encontrava velho, pobre, doente, cheio de cicatrizes e abandonado. Porém, quando todos pensavam que era o seu fim, ele deixa uma mensagem de esperança que ainda ressoa nas almas daqueles que se encontram abandonados e desiludidos por amor a Cristo e seu chamado.
17 Mas o Senhor ficou comigo, me deu força para que eu pudesse anunciar a mensagem completa a todos os não judeus e me livrou de ser condenado à morte. 18 O Senhor me livrará de todo o mal e me levará em segurança para o seu Reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém! (2 Tm. 4:17, 18 NTLH).
Que Deus nos abençoe!