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Onde o coração faz morada

Crônica de Walter de Lima Filho – Baseada em Mateus 6:10,21 – 16/06/2025

O sol já brilhava e o aroma do café fresco se espelhava pela cozinha. Dona Aurora, com suas mãos calejadas de uma vida inteira de trabalho intenso, remexia a panela de brigadeiro, mas seus pensamentos estavam longe da doçura. A vizinha do andar de cima, a Dona Teca, havia comentado sobre o novo carro que o filho dela, o Nestor, tinha comprado. Um modelo importado, reluzindo como joia, mas que mal cabia na apertada vaga do condomínio.

“Ah, o Nestor, sempre correndo atrás do que reluz”, pensou Dona Aurora, com um suspiro. Ela se lembrava do tempo em que o rapaz era um garoto simples, contente com a bola de futebol furada e a bicicleta velha, de pneus quase “carecas”. Agora, parecia que a vida dele era uma incessante corrida por mais: mais conforto, mais luxo, mais coisas que, no fim das contas, pareciam encher a casa e esvaziar o coração.

Essa conversa com a Teca, e a cena do carro novo estacionado com tanta pompa, a fez pensar em algo que ouviu há muito tempo, umas palavras antigas, mas que ecoavam com uma verdade atemporal. Algo sobre tesouros. Sobre onde a gente guarda o que realmente importa. Jesus, em Sua sabedoria tão simples e profunda, dizia para ajuntar riquezas onde traça não come e ferrugem não corrói, onde ladrão não alcança. No “Céu”, Ele dizia. E arrematava com uma frase que era um soco no estômago, mas também um afago na alma: “Pois onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês.”

Dona Aurora olhou para o brigadeiro, que começava a desgrudar do fundo da panela. Que tesouros ela tinha juntado? Não eram carros luxuosos, nem joias cintilantes e roupas de marca. Eram as risadas e a alegria dos netos, a paciência com o marido, o abraço apertado de uma amiga, que dela recebeu ajuda em um dia difícil. Eram as sementes plantadas nos vasos que davam flores, a mão estendida a quem precisava, as orações sussurradas no silêncio das primeiras horas da manhã. Eram riquezas que não se pesavam em gramas de ouro, mas em leveza e pureza de espírito.

Ela pensou no Nestor, que, talvez, nem percebesse que, enquanto ele lustrava o carro novo, seu coração podia estar preso ali, naquele pedaço de metal e plásticos, vulnerável a qualquer arranhão, a qualquer ferrugem do tempo – a apodrecer. Dona Aurora, segundo a sabedoria de Deus, sabia que a vida, no fim das contas, é uma sucessão de escolhas corretas e sadias, que a conduzia à Vida Eterna. Cada dia, a gente escolhe onde depositar um pedacinho de si. Em que banco, em que cofre, em que tipo de solo – na Eternidade?

Com um sorriso sereno, ela desligou o fogo e começou a enrolar os brigadeiros, um por um. Pequenas esferas doces, que seriam partilhadas. E, naquele ato simples de partilhar, de oferecer algo feito com carinho, Dona Aurora sentiu que estava, sim, acumulando algo que nenhuma traça ou ferrugem poderia tocar. Seu coração, ela sabia, estava bem guardado. E ele, felizmente, não encontraria espaço suficiente em garagem nenhuma, somente na Eternidade – na Vida Eterna, prometida por Jesus!

Reflita

1.  Escolha: Como a escolha de onde acumulamos nossos tesouros reflete o livre-arbítrio que Deus nos concedeu?

2.  Responsabilidade: De que forma nossa responsabilidade pessoal se manifesta na decisão de buscar riquezas celestiais em vez de terrenas?

3.  Graça e Esforço: Embora a graça de Deus nos capacite, como o nosso esforço em seguir o ensinamento de Jesus sobre tesouros contribui para essa jornada?

4.  Transformação: Como a transformação do nosso coração, guiada pelo Espírito Santo, nos ajuda a desejar e priorizar as riquezas que não perecem?

Walter de Lima Filho