Crônica de Walter de Lima Filho – Baseada no Salmo 10:1 – 21/07/2025
A gente vive num corre-corre danado. Acorda, trabalha, estuda, resolve pepinos, descasca abacaxis, cria filho, tenta pagar as contas… No meio desse turbilhão, as palavras de um Salmo ecoam na nossa cabeça, como um grito silencioso: “Ó SENHOR Deus, por que ficas aí tão longe? Por que te escondes em tempos de aflição?” É o Salmo 10:1, mas poderia ser a nossa própria voz, baixinha, no meio da noite.
A verdade é que, desde criança, nós fomos criados por Deus para questionar. Lembro-me bem, quando lecionava na Escola Bíblica Dominical, das pérolas que saíam da boca dos meus alunos: “Deus quis que a girafa fosse assim ou foi um acidente?”, perguntava um. Outro, com a sinceridade que só a infância tem, lamentava: “Pedi tanto um cachorrinho, e Deus me deu um irmãozinho. Por quê?” E tinha o clássico: “Quem criou a luz? Foi Deus ou Thomas Edison?”
A gente ri dessas perguntas, mas elas são um espelho. Mostram que a busca por entender o que nos escapa é parte de quem somos. Mesmo o cristão mais experiente, com anos de caminhada, vez ou outra se pega com um nó na garganta, uma interrogação na alma.
Não é falta de fé, não. Pelo contrário. É um clamor, um desejo genuíno de se aproximar. Pense nos salmistas como homens de uma fé imensa. Davi, “um homem segundo o coração de Deus”, não tinha vergonha de expor suas dores, suas incertezas. Ele perguntava: “Até quando esquecerás de mim? Será para sempre? Por quanto tempo esconderás de mim o teu rosto?” É a sinceridade do coração que busca a verdade, que não se contenta com o raso, mas como agir com fidelidade a Deus.
E o mais bonito disso tudo é que Deus não se ofende. Ele não vira as costas para as nossas perguntas. Pelo contrário, Ele acolhe. Ele nos convida a chegar perto, a expor o que nos aflige. Não para nos punir, mas para nos dar sabedoria, para nos mostrar a vida do jeito que Ele a vê. É um convite à dependência, à confiança.
Tiago, o meio irmão de Jesus, já dizia: “Se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus, e ele a dará porque é generoso e dá com bondade a todos.” Mas ele completa, e aqui está o pulo do gato: “Porém peçam com fé e não duvidem de modo nenhum.” Não é para duvidar da resposta de Deus, mas para confiar na Sua bondade em nos guiar em segurança eterna. A dúvida, aqui, não é sobre a existência de Deus, mas sobre nossa capacidade de confiar plenamente.
Jesus mesmo prometeu o Espírito Santo, o Auxiliador, que nos ensinaria e nos faria lembrar de tudo o que Ele disse. E nos deixou a paz, uma paz que o mundo não pode dar – a amizade com Deus. Essa paz é o antídoto para a aflição e o medo, para aquela sensação de que estamos sozinhos com nossas perguntas. É a persistência de que, mesmo nas sombras, Deus está presente e operando.
Entender isso muda tudo. Nossos questionamentos, longe de serem um sinal de fraqueza, são a prova de que nosso amor a Deus é verdadeiro. Se amamos com a mente, com o entendimento, buscamos conhecer mais, compreender mais. O amor de verdade não se satisfaz com o superficial. Ele persiste, ele busca incessantemente.
E mesmo que as respostas não venham na hora, ou do jeito que a gente espera, a esperança cristã não é uma negação da dor. É a certeza de que Deus é fiel, imutável. Sua palavra é a base da nossa confiança.
Então, quando a dúvida bater à porta, quando a angústia apertar, não se cale. Pergunte. Questione. O ato de indagar a Deus é, em si, uma forma de oração, um ato de fé. É um diálogo contínuo, um estímulo sincero para aprofundar um relacionamento.
Questionar a Deus não é sinal de falta de fé, mas um caminho para o aprofundamento dela. É um convite ao crescimento. A jornada de fé é dinâmica, cheia de aprendizado. Por isso, tenha coragem, persista. Busque a Deus com humildade e confiança, sabendo que Ele é fiel para responder e fortalecer a sua esperança.
Seja paciente. Deus sempre estende a Sua mão àquele que O busca com honestidade e humildade. E Ele espera a nossa resposta: um coração comprometido, obediente e sincero.
PERGUNTAS PARA REFLEXÃO
1 – A liberdade de questionar a Deus. De que forma essa liberdade enfatiza o livre- arbítrio humano na relação com Deus, convidando-nos a uma busca mais sincera e profunda, e não a um afastamento?
2 – Deus não se ofende com nossas dúvidas, mas as acolhe com compaixão e compreensão. Como essa disposição divina em responder se alinha à nossa crença que Ele deseja se relacionar e revelar Seus propósitos à humanidade? Como isso fortalece a nossa esperança e confiança Nele?
3 – Os questionamentos podem ser um caminho para o aprofundamento da fé. Pensando na persistência e coragem na caminhada espiritual, como o ato de duvidar, quando acompanhado de humildade e busca constante, pode realmente nos levar a um relacionamento mais fiel e dependente de Deus?
4 – Questionar a Deus não é falta de fé, mas um caminho para aprofundá-la. De que maneira essa ideia se conecta à responsabilidade humana em responder ao chamado divino, nos encoraja a manter um diálogo contínuo e sincero com Deus, fortalecendo nossa confiança e a certeza de que Ele estende a mão a quem O busca?