Crônica de Walter de Lima Filho – Baseada em Mateus 6:10 – 28/07/2025
A vida, ah, essa vida… A gente acorda e lá vem a mesmice da rotina! Tomamos café, nos vestimos, vamos para o trabalho, enfrentamos o trânsito e, enquanto isso, os boletos começam a chegar. Além disso, os planos que (nem sempre) dão certo. No meio de tudo isso, é tão fácil se deixar levar pelo que chamamos de “vida na Terra como ela é na Terra”. Sabe o que eu quero dizer? É quando a gente permite que o mau humor alheio estrague o nosso dia, que um imprevisto tire nosso sono, algo que julgamos importante não deu certo ou que uma crítica boba nos faça duvidar de tudo.
Nesse turbilhão de situações, pensamentos, emoções e sentimentos, permitimos que a nossa paz interior se transforme como num barquinho de papel em um mar agitado. Qualquer onda maior, qualquer vento mais forte, e lá se vai a tranquilidade, balançando de um lado para o outro. A gente se irrita, se frustra, se desanima. No fim das contas, a nossa felicidade fica refém do que acontece aqui embaixo, no chão batido do dia a dia. Parece familiar? Para mim, mais do que deveria!
A Escolha de José e a Nossa Bússola Interna
Mas e se eu disser que existe uma outra forma de navegar por esse mar? Uma bússola interna que aponta para “um lugar diferente”, um lugar de paz inabalável, de alegria que não depende de risadas forçadas, fingimentos, perdas e de falsas aceitações. Estou falando de viver “na Terra como ela é no Céu”. Entenda, por favor! Eu não estou falando de flutuar por aí sem preocupações, ignorando a realidade. Pelo contrário.
Lembro de José, aquele da história bíblica, no Livro de Gênesis. Vendido pelos irmãos, jogado numa prisão sem culpa, vítima de injustiças que fariam qualquer um se afundar na amargura. Se ele vivesse só “na Terra como ela é na Terra”, o ódio teria tomado conta de seu coração. Mas não. A história nos conta que “o Senhor estava com José” (cf. Gênesis39:2,21). Ele escolheu uma perspectiva diferente. Escolheu confiar que, mesmo no meio da tempestade mais violenta, havia um propósito divino. E isso fez toda a diferença. José não se tornou refém de suas emoções. Ele não deixou que as circunstâncias ditassem quem ele era ou para onde ele ia.
Cidadãos do Céu em Terra Firme
Viver “na Terra como ela é no Céu” é um chamado divino. É um convite para trazer a realidade de um lugar perfeito, cheio de justiça, paz e a presença constante de Deus, para o nosso cotidiano. É como um astronauta na Estação Espacial Internacional. Lá em cima, a gravidade não o afeta da mesma forma. As tempestades aqui embaixo não o alcançam. Ele vive em outra dimensão, com suas próprias leis. Nós, de certa forma, somos chamados por Deus a ser esses “cidadãos do Céu” (cf. Filipenses 3:20), enquanto pisamos aqui na Terra.
E o que isso significa na prática? Significa que podemos ter paz com Deus em meio às tempestades, aquela paz que “excede todo entendimento”, que não depende da ausência de problemas, mas da presença de Deus, a nossa “força” em nossas vidas (cf. Filipenses 4:7). Significa ter uma alegria inabalável, não aquela alegria de festa, mas a “força” que nos sustenta nas provações, sabendo que Deus tem Seus planos e confiamos neles (cf. Neemias 8:10).
Significa perdoar em vez de guardar amargura, lembrando que a leveza do perdão é um presente que damos a nós mesmos, assim como um dia fomos perdoados (cf. Efésios 4:32). Significa ter confiança em vez de ansiedade, lançando sobre Deus todas as nossas preocupações, porque sabemos que há cuidado e provisão (cf. 1 Pedro 5:7).
Uma Mudança de Rota
Quando escolhemos viver essa vida “do Céu para a Terra”, nossa bússola muda de direção. Nossos olhos não ficam fixos apenas nos problemas terrenos, mas na esperança que nos move. Nossas reações não são mais baseadas em emoções passageiras, mas na verdade de que há um propósito divino. Nossa esperança não é um desejo vago, mas uma certeza.
A vida que Deus nos oferece não é acerca de sobrevivermos neste mundo. É sobre vencê-lo. É sobre não permitir que as circunstâncias roubem nossa alegria e nossa essência. É sobre trazer a paz, a alegria, a justiça e o amor que estão lá em cima para o nosso aqui e agora.
Que a nossa fé em Cristo seja essa âncora, a nossa coragem o vento que nos impulsiona, a nossa persistência o leme que nos mantém no rumo, e a nossa esperança traz a “Luz” da Palavra de Deus aos nossos dias. Que, ao decidir viver “na Terra como é no Céu”, a gente inunde nosso cotidiano de um impacto que transborde e inspire a todos ao nosso redor.
É uma escolha diária que, apesar dos muitos dissabores, ela é a decisão que vale a pena.
Perguntas para Reflexão
1 – Como nossa escolha diária de confiar em Deus, mesmo diante das adversidades terrenas, nos permite experimentar a paz e a alegria que vêm “do Céu para a Terra”?
2 – De que forma o exercício do nosso livre-arbítrio em perdoar e lançar a ansiedade sobre Deus, em vez de nos prendermos à amargura e preocupação, reflete a realidade do Céu em nosso cotidiano?
3 – Qual a importância de nossa persistência em buscar uma perspectiva “celestial” para a vida, mesmo quando as circunstâncias nos puxam para uma mentalidade puramente terrena, e como isso fortalece nossa esperança?
4 – Como a graça de Deus nos capacita a ter a coragem de viver “na Terra como é no Céu”, manifestando características divinas e impactando positivamente aqueles ao nosso redor?