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Cores vivas em olhos embaçados

Crônica escrita por Walter de Lima Filho – Baseada em 2 Coríntios 4:16-18 – 04/08/2025

A gente acorda, e o espelho não mente. Uma ruga nova aqui, um fio branco ali. A memória que falha para o nome de um artista famoso, mas lembra de cor a letra daquela música antiga. O corpo que já não tem o mesmo pique, as dores que aparecem sem aviso, como visitas indesejadas. Ah, como a vida vai nos apresentando essas “nossas” versões de Paulo, o apóstolo, aquele que via a vida se esvaindo pelos poros, os sentidos enfraquecidos, sem os confortos da medicina moderna, que hoje nos prometem uma juventude permanente (ou quase isso).

Ele, Paulo, sentia o peso da caminhada, dos espancamentos, das noites mal dormidas, da idade que chegava sem pedir licença. Ele era honesto consigo mesmo: tudo isso era uma ameaça. Uma ameaça à fé que carregava, à alegria que tentava manter e, principalmente, à coragem de seguir em frente, pregando e ensinando um Evangelho que, para muitos, era pura loucura.

Mas o que nos faz não desanimar? Essa é a grande pergunta, não é? A gente se pega nela em meio ao trânsito caótico, na fila do banco que não anda, na conta que chegou mais alta do que o esperado, nas aflições. Desanimar parece a saída mais fácil, o caminho menos íngreme. Mas algo, uma chama lá dentro, teima em não se apagar.

A resposta de Paulo era estranhamente simples, mas profundamente transformadora: a renovação da alma vem de olhar para o que não se pode ver. Parece confuso, eu sei. Nossos olhos, acostumados a telas vibrantes e imagens nítidas, são treinados para o visível, o palpável, o imediato. Mas o apóstolo nos convida a ir além, a mergulhar em uma realidade que transcende a visão comum.

“Não atentamos nas coisas que se veem, mas nas que se não veem. Pois as que se veem são passageiras, mas as que se não veem são eternas.” Fazendo uso de uma linguagem mais simples, entenda as palavras do apóstolo Paulo,: “Não focamos nossa atenção a tudo o que podemos ver atualmente, ou seja, para as dificuldades que nos
rodeiam, mas olhamos para frente, para as alegrias que nos esperam no Céu, as quais ainda não vimos. Sabemos que as aflições logo desaparecerão e que as alegrias futuras durarão eternamente.”

Pense nisso por um instante. Aquela frustração no trabalho, o desentendimento em família, a notícia desanimadora do jornal – tudo isso é visível, concreto, mas também passageiro. São nuvens que encobrem o sol, mas o sol continua lá, firme e forte, esperando a chance de brilhar novamente.

Nossa fé, nossa esperança, nossa coragem, elas se nutrem do invisível. Não é um salto no escuro sem evidências, como Paulo bem nos lembra. É andar por fé, é enxergar com os olhos do coração – da alma. É ver a luz da glória de Deus, que resplandeceu nas trevas, refletida na face de Jesus. É reconhecer que o propósito divino e a promessa da vida eterna é o que realmente nos impulsiona.

É essa verdade invisível, mas potente, que nos permite levantar a cada queda, que nos reanima em meio às lágrimas, que nos dá a persistência de continuar, mesmo quando o desgaste e o cansaço apertam. É a certeza de que Deus está nos fortalecendo e guiando, pois Ele é a nossa Luz nas noites mais escuras.

Então, não negamos que as rugas virão, a memória pode pregar peças e o corpo sentirá o peso dos anos. Mas se mantivermos o foco no que realmente importa, no que os olhos físicos não alcançam, mas que o coração compreende, jamais desanimaremos. Porque a verdadeira força não está no Deus Único que cremos e vemos, em cada circunstância de nossa vida. Como é bom saber que a Sua força e bondade são inesgotáveis.

DESCUBRA E REFLITA

1 – Mesmo com o desgaste físico e os desafios da vida, o que, de acordo com o texto da crônica, nos permite ter renovação interior e não desanimar? (vd. Parágrafos 4 e 5)

2 – Segundo a crônica e a perspectiva do apóstolo Paulo, por que é fundamental focar no que não se vê, em vez das coisas visíveis e passageiras do dia a dia? (vd. Parágrafos 5 e 6)

3 – Onde o texto indica que a nossa fé, esperança e coragem encontram sua principal fonte de nutrição, mesmo diante das adversidades? (vd. Parágrafos 7 e 8)

4 – Qual a certeza que, segundo o autor, nos impulsiona a continuar e nos fortalece nas dificuldades, mesmo quando o cansaço e o desgaste se fazem presentes? (vd. Parágrafos 8 e 9)

Walter de Lima Filho