Crônica escrita por Walter de Lima Filho – 24/08/2025
Numa manhã cinzenta, daquelas que prometem um sol tímido, mas entregam apenas o cinza do céu sobre o asfalto molhado, encontrei um amigo para um café antes de ingressarmos na rotina do trabalho. A cafeteria, com seu cheiro de grãos moídos e pão quente, era um refúgio acolhedor contra a frieza do mundo lá fora. Ele, um velho conhecido, parecia um porto seguro para as inquietações dos desafios que eu carregava.
A conversa, como de costume, fluiu para as águas turbulentas da vida. Falei sobre o cansaço, a sensação de que as responsabilidades se amontoavam, o peso de uma tristeza que, por mais que eu tentasse, não me largava. Era uma dor surda, daquelas que não se explica, apenas se sente. Eu buscava em sua experiência, um norte, uma palavra que me animasse, que trouxesse um pouco de clareza e motivação ao caos que sentia na alma.
Ele me ouviu com a paciência de um pastor e a empatia de um irmão. Com o olhar fixo na fumaça que subia da minha xícara, ele começou a falar. “Olha, amigo”, disse ele, “a vida é isso mesmo. É um jogo de sobrevivência. Você precisa ser mais esperto, mais forte. Não pode deixar que esses sentimentos te dominem. Olhe para o seu próprio interior, para o que você já superou. Acredite em si mesmo, na sua força, no seu potencial.” Suas palavras soavam como um mantra ou jargão moderno, um eco de autoajuda que eu já ouvira em tantos lugares. Mas, por algum motivo, algo me soava vazio.
Enquanto ele continuava, um pequeno alarme soou dentro de mim. Era a voz da desconfiança, sutil e insistente. Os conselhos dele não falavam de nada além da minha própria capacidade. Da minha força, da minha resistência. Era uma visão de mundo onde o ser humano era o centro de tudo, um guerreiro solitário contra as adversidades. Mas o que eu estava enfrentando não parecia algo que a força de vontade pudesse resolver. Era algo mais profundo, mais sombrio, que me roubava o fôlego e a alegria de viver.
Interiormente, eu me perguntava: “O que estava faltando nessa equação? Onde estava a âncora? Onde estava a verdade que me sustentava?” Eu me sentia como um barco à deriva, e ele me dizia para remar com mais força, sem me perguntar se eu tinha um remo e um destino.
Foi então que a imagem de uma floresta antiga e resistente, que eu havia lido em algum lugar, me veio à mente. Árvores que enfrentavam o inverno rigoroso não com armas, mas com defesas naturais, enraizadas na própria essência. Suas raízes, firmes como a verdade, penetravam o solo, enquanto a casca robusta, como a justiça, protegia seu interior. Era uma batalha de resistência, não de ataque. E a vitória não vinha da força bruta, mas da capacidade de permanecer de pé, de se apoiar no que é verdadeiro.
A conversa seguiu por mais alguns minutos. Ele me contou sobre seus próprios desafios, sobre como os havia superado com pura determinação. Eu sorria e assentia, mas meu coração e minha mente já estavam em outro lugar. Meu pensamento estava no texto de Efésios (6:12-18), que eu havia lido dias atrás. A ideia de que nossa luta não é contra pessoas, mas contra forças invisíveis, contra o mal espiritual. E que para essa batalha, a armadura não é de aço, mas de algo muito mais profundo.
O cinturão da verdade, que não é a minha verdade, mas a Verdade, com V maiúsculo, de Cristo – “Aquele que é a Pura e Única Verdade”. A couraça da justiça, que não é a minha justiça, mas a justiça que me foi dada por Jesus. As sandálias da paz, que me permitem caminhar com estabilidade, não por meu próprio mérito, mas por causa da amizade com Deus.
O escudo da fé, que não é a minha fé cega, mas a fé que me faz confiar na presença e nas promessas divinas, mesmo quando o medo me ataca. O capacete da salvação, que protege minha mente (alma), me lembrando que, não importa o quão sombrio o dia, eu sou filho de Deus e minha esperança é a Vida Eterna. E, finalmente, a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, a única arma ofensiva, para cortar as mentiras e as acusações que me tentam envergonhar e destruir.
A conversa terminou. Nós nos despedimos e saímos da cafeteria. O dia continuava cinzento, mas o peso em meu peito estava mais leve, não pelos seus conselhos, mas pelo que, em meu interior, a voz do Espírito de Deus me fez lembrar. Eu havia percebido a fragilidade da minha própria natureza humana e a inadequação dos conselhos que me apoiavam apenas em mim mesmo. Eu não precisava de mais determinação, eu precisava de mais Deus – ser mais revestido de Jesus.
Minha alma, que antes parecia um deserto, se encheu de esperança. Entendi que a vitória não estava na minha força, mas na minha dependência de Deus. A batalha era real, mas meu “General” já havia vencido. A responsabilidade era minha de me vestir diariamente com “Sua armadura”, de me cobrir com Ele, de caminhar na Sua verdade e de lutar conforme à Sua Palavra – Seus ensinamentos e orientações.
O QUE VOCÊ PRECISA SE LEMBRAR DESSA CENA? Que a nossa luta não é contra a dor, mas contra a fonte dela. Não é contra os desejos, mas à fonte deles. Não é contra pessoas, mas contra quem as está influenciando. Suas palavras se ajustam ao que Bíblia realmente diz? Que a nossa força não está na nossa determinação, mas na nossa submissão a Deus e à Sua Palavra. Que o remédio para as nossas feridas não vem de palavras vazias, mas da Verdade divina que nos liberta e da nossa confiança (fé e fidelidade) em Deus, por meio de Jesus, a minha “Armadura”.
VAMOS REFLETIR?
1 – A crônica mostra um amigo dando um conselho que soa bem, mas que na verdade não ajuda. Pense nas suas próprias dificuldades. Você já recebeu conselhos que pareciam fáceis ou lógicos, mas que, no fundo, o fizeram sentir-se ainda mais sozinho na luta?
2 – O que aquele que narra a crônica percebeu? Que a verdadeira batalha não é contra o cansaço ou a tristeza, mas contra algo mais profundo. Na sua vida, você poderia descrever sobre qual é a “batalha invisível” que tem enfrentado?
3 – A crônica fala sobre a “armadura de Deus” como algo que nos protege. Em sua opinião, como os elementos dessa armadura, agindo em conjunto, podem ser proteções reais no seu dia a dia, mesmo sem serem coisas físicas?
4 – Ao final, o narrador da crônica decide confiar em Deus e em si mesmo. Então, em relação à “armadura divina, quais seriam os passos que você deve tomar, para cooperar com Deus, se unir a Ele e receber Sua força e apoio, para se manter firme, quando os desafios parecerem grandes demais?