Crônica escrita por Walter de Lima Filho – 31/08/2025
As luzes do prédio da nossa igreja estavam quase todas apagadas. O culto tinha acabado e a maioria das pessoas já havia saído, levando consigo o eco dos hinos e a mensagem que ainda ressoava no ar. Eu estava ali, quieto, refletindo sobre a meditação a respeito de Elias, a seca e a armadura de Deus, quando senti um movimento ao meu lado. Era o Dito, um amigo de longa data, que se sentou na cadeira ao lado, com o peso de um mundo nas costas.
— A paz do Senhor, meu irmão — disse ele, com a voz baixa e sem a energia de sempre. — A paz, Dito. O que foi? O seu rosto se parece com quem acabou de enfrentar o monte Carmelo? — brinquei, mas vi que a piada não o atingiu.
Ele soltou um suspiro profundo, como se estivesse jogando fora um ar viciado. “Não sei mais, cara. Sinceramente, não sei”, ele começou. “Olho para o mundo lá fora e sinto que estou perdendo a batalha. Vejo a prosperidade de gente que vive na maldade, a mentira se espalhando como praga, e a gente, que tenta seguir a luz, parece que só enfrenta deserto. Os valores, a decência, a fé… tudo parece estar virando piada. Às vezes, me dá vontade de desistir. De jogar a toalha e dizer: ‘Chega, não aguento mais essa guerra’.”
Dito, com sua fala, desenhou um quadro que eu conhecia bem. Ele descreveu um mundo que, assim como o de Acabe e Jezabel, misturava as coisas sagradas com as profanas, trocando a verdade por prazeres imediatos e interesses egoístas. A honestidade parecia ser uma fraqueza e a perversidade, uma estratégia de sucesso. A reunião da igreja e ensinamentos, para ele, parecia um refúgio cada vez menor diante da avalanche de problemas lá fora.
Eu olhei para ele, e a imagem de Elias, no monte Carmelo, veio à minha mente. O profeta sozinho, contra centenas de profetas de Baal. Pensei no que o pregador tinha dito sobre a armadura, e as palavras saíram naturalmente.
— Sabe, Dito, o que você está sentindo é real. É o peso do nosso tempo, mas não é um sentimento novo. O que você me descreve é o mesmo desânimo que Elias sentiu. A gente olha para o deserto ao redor e esquece que Deus nos dá a armadura para enfrentar essa realidade.
Eu me ajeitei no banco e continuei. — O Elias, que você ouviu no sermão de hoje, não era um super-herói de capa. Ele era um homem como eu e você. Mas, ele tinha a armadura de Deus. Ele fez uso dela de modo completo e a primeira peça, ele usou para confrontar a mentira. Ele usou o cinturão da verdade para dizer a Acabe: “Em nome do Senhor, Deus de Israel, a chuva só vem se Ele quiser!”. Em um mundo cheio de meias verdades e misturas, o cinturão da verdade é o que nos mantém firmes. Não é sobre o que as pessoas e as notícias dizem, mas o que Deus diz.
Dito me olhava atentamente, e eu percebi que ele estava se reconectando com o que eu falava. — E depois, ele não buscou a própria razão. Ele usou a couraça da justiça. No monte Carmelo, Elias não tentou provar que era o mais forte ou o mais esperto. Ele queria mostrar a justiça de Deus. A gente não precisa vencer as discussões, mas viver de forma justa, com integridade, expondo a falsidade pela maneira como agimos. Essa é a nossa couraça. A nossa conduta justa é a melhor resposta contra a injustiça do mundo.
Eu peguei o fôlego e, sorrindo, continuei. — Depois de toda a batalha, ele se tornou um mensageiro da paz, com as sandálias do evangelho. Ele não estava em busca de vingança. Ele queria que o povo se reconciliasse com Deus – retornasse para Ele e renovasse a amizade com o Eterno. Quando o fogo de Deus desceu e consumiu o altar, o povo gritou: “O Senhor é Deus!”. Não foi uma vitória para Elias, mas, palavras que denotavam a reconciliação com Deus.
A nossa paz, a nossa amizade com Deus, é o que a gente leva para o mundo, mostrando que Ele é o único capaz de trazer a paz verdadeira em meio ao caos. O peso no rosto de Dito parecia estar diminuindo.
Abracei meu amigo e ele me abraçou de volta. Naquele momento, eu soube que ele não desistiria. Ele havia encontrado uma nova perspectiva. A armadura, que parecia uma metáfora distante, havia se tornado uma realidade para o seu coração desanimado. E NAQUELE MOMENTO, ELE ESTAVA PRONTO PARA CONTINUAR A BATALHA, NÃO COM A FORÇA DELE, MAS COM A QUE DEUS LHE DÁ.