Para termos uma melhor compreensão deste texto bíblico, vamos analisar com mais cuidado o seu contexto, para extrairmos princípios que podem nortear nossas vidas de uma maneira que agrade a Deus e reflita a Sua Glória neste mundo, pois é assim que eu entendo que devemos meditar nas Escrituras. Então, o que podemos observar nesta passagem do Evangelho de João?
“Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus foi até Jerusalém”. (Jo 5: 1 NTLH).
Estas festas eram religiosas e todo o povo judeu deveria participar. O clima era de alegria, de celebração, a cidade estava superlotada de judeus vindos de toda parte, porém, quando Jesus chega a Jerusalém, Ele deixa aquele ambiente de festa e vai para um local chamado Betesda, onde ficava um tanque, com cinco entradas e que, segundo João, ficava próximo ao Portão das Ovelhas.
“Ali existe um tanque que tem cinco entradas e que fica perto do Portão das Ovelhas. Em hebraico esse tanque se chama “Betezata””. (Jo 5: 2 NTLH).
Esse Portão das Ovelhas, que ficava nas muralhas de Jerusalém, seria uma porta menor entre as 12 portas de Jerusalém, pois ela não seria feita para passagens de homens, mas sim, das ovelhas que vinham de Belém para serem lavadas no Tanque de Betesda, e aí então, apresentadas aos sacerdotes no Templo.
“Perto das entradas estavam deitados muitos doentes: cegos, aleijados e paralíticos. [Esperavam o movimento da água, porque de vez em quando um anjo do Senhor descia e agitava a água. O primeiro doente que entrava no tanque depois disso sarava de qualquer doença.] (Jo 5: 3,4 NTLH).
Eu posso imaginar como era aquele lugar, aquele Tanque, certamente, um lugar deprimente, sujo, com pessoas gemendo de dor, espalhadas pelo chão, abandonadas e entregues à sua própria sorte, sem nenhum cuidado, um lugar onde nós não gostaríamos de estar, mas é exatamente o local que Jesus escolheu para manifestar a Sua Glória, o Seu amor, a Sua Graça, a Sua bondade, a Sua misericórdia, o Seu Poder e Justiça.
- Esteja preparado e disposto a sacrificar-se para manifestar a Glória de Deus em todo tempo e lugar.
Infelizmente, nós, cristãos, se pudéssemos escolher, gostaríamos de estar mais em locais festivos, alegres, que nos dão prazer, com pessoas saudáveis e felizes, mas Jesus escolheu deixar aquele ambiente de festa e celebração em Jerusalém para estar entre os pobres, os doentes, os necessitados, os que sofrem, porque Ele entendia muito bem a importância de Sua missão e dos propósitos divinos para a Sua vida, conhecimento este que falta em muitos cristãos, que priorizam mais a diversão, o prazer pessoal, o conforto, o bem-estar, do que o chamado de Deus para serem úteis a Ele e às pessoas.
Ali estava, sem dúvida, uma oportunidade de refletir a Glória de Deus, por meio da mão curadora e da Palavra restauradora de Jesus Cristo.
Como já vimos, eles esperavam o movimento das águas, porque acreditavam que estas adquiriam um poder de cura. Não vem ao caso saber se a água era visivelmente movida por um anjo ou não. Certamente, era uma crença que se espalhou naquela região, onde as pessoas acreditavam que era um anjo que descia e tocava a água, tornando-a curativa, e essa crença atraía para lá doentes de toda parte.
Tão logo a agitação da água ocorria, toda a multidão provavelmente pulava rapidamente no tanque, e os que não podiam entrar sozinhos eram empurrados por outros, que os ajudavam. Vocês podem imaginar isso? Que cena mais deplorável devia ser!
Aquele homem inválido, paralítico, do nosso texto, perdeu seus últimos trinta e oito anos à espera de uma cura nesse tanque.
“Entre eles havia um homem que era doente fazia trinta e oito anos”. (Jo 5: 5 NTLH).
Ele tinha uma leve esperança de que um dia, quem sabe, pudesse ser o primeiro a entrar na água agitada, entre aquela imensa multidão de doentes.
“Jesus viu o homem deitado e, sabendo que fazia todo esse tempo que ele era doente,…”. (Jo 5: 6 NTLH).
Esse paralítico, na verdade, estava plenamente consciente de sua doença. Ele não tinha dúvida quanto à gravidade dela, suas limitações, sua fragilidade, pois era um inválido que sentia e assumia a sua condição.
“_ Senhor, eu não tenho ninguém para me pôr no tanque quando a água se mexe…” (Jo 5: 7 NTLH).
- Que nós reconheçamos a nossa fragilidade espiritual e moral, e passemos a depender inteiramente de Deus!
A condição deste homem paralítico tipifica a nossa vida antes de conhecermos a Cristo, uma vida inútil, inválida, limitada, cuja esperança se baseava em uma crença popular, mundana, igualmente inútil, que mais causava decepção do que esperança propriamente dita.
Quando nos aproximamos de Deus, uma das coisas que o Senhor nos revela é a nossa natureza humana pecaminosa, corrompida, decaída em suas intenções e propósitos, e então, pela ação do Espírito Santo, somos levados ao arrependimento e convencidos de que devemos viver inteiramente dependentes de Deus, como único meio de termos uma vida aprovada por Ele.
O doente de Betesda tinha consciência de que precisava de ajuda celestial, e a sua espera junto ao tanque demonstrava isso. Mas, por outro lado, muitos cristãos, até se sentem pecadores, e sabem também que nunca serão salvos a não ser pela graça divina. Você crê em Deus, não nega o Evangelho e deseja ser salvo em Cristo Jesus, contudo, até agora não foi além do que apenas sentir que está doente, que deseja ser curado e que sua cura virá do alto. Mas isso não é suficiente!
O homem paralítico, inválido, do nosso texto bíblico, queria ser curado, e aguardava junto ao tanque que ocorresse determinado sinal, um milagre, algo extraordinário. Ele esperava que um anjo pudesse, repentinamente, descer do céu e tocar a água, para que, então, pudesse ser o primeiro a nela entrar e ser curado.
É este também o pensamento e a atitude de muitos irmãos, que até admitem os seus pecados, e desejam a salvação de suas almas, mas esperam imóveis, limitados por sua paralisia espiritual, por anos, inativos em suas congregações, sem demonstrar interesse em conhecer os Planos de Deus para sua vida, sem produzir um único fruto para o Reino de Deus, mas esperam que algo sobrenatural transforme suas vidas. Como?
Eles frequentam as igrejas, oram, cantam, leem a Bíblia, ensinam, porém, no seu íntimo, permanecem na contínua recusa de renunciar o seu “eu”, de sacrificar seus interesses pessoais, para obedecer ao verdadeiro Evangelho.
Eles esperam, que um dia, de repente, venham a experimentar alguma sensação nova e estranha, alguma visão ou uma voz do alto que, num passe de mágica, mudem suas vidas.
Nós temos aprendido em relação à vontade de Deus que, em parte conhecemos e em parte não. (Dt.29: 29) O que conhecemos está escrito nas Escrituras Sagradas e o que não conhecemos pertence aos propósitos ou desígnios de Deus, à Sua Soberania.
Então, cabe a nós obedecermos e praticarmos os Seus ordenamentos, crermos e confiarmos em Jesus como o Senhor de nossas vidas, pois que direito você tem de exigir ou esperar que Deus faça algo de extraordinário em sua vida para então você mudar, em vez de, simplesmente, confiar e obedecer?
O que o Senhor fez por nós já é a maior das maravilhas. Aguardar por uma experiência de salvação notável, ou esperar por um desses milagres midiáticos, divulgados pelo rádio e televisão que busca impressionar a todos, é tão insensato quanto era esperar, na multidão que se aglomerava em Betesda, que um anjo muito aguardado movesse a água, quando Aquele que podia curá-los já estava no meio deles, mas negligenciado e desprezado pelo povo indiferente.
E não é isso que assistimos nas igrejas hoje em dia? Um povo que só fica atrás de milagres, revelações, profecias, anjos, demônios, campanhas, correntes, novenas, e o que menos fazem é seguir verdadeiramente a Jesus.
Assim, muitos cristãos comparecem às reuniões da igreja sem entenderem a razão do porquê se reúnem ali. Esperam sempre por um milagre, uma revelação, ou algo que toque o seu emocional, para dizer que “o culto foi uma benção”, enquanto Deus segue sendo ignorado por um povo indiferente que não quer pensar e compreender quais são os alvos de Deus para a sua vida.
Quando deu a Grande Comissão a seus discípulos, o Nosso Senhor disse:
“Vão pelo mundo inteiro e anunciem o evangelho a todas as pessoas”. (Marcos 16: 15NTLH)
Que Evangelho era esse? Que eles deviam ver ou esperar por um grande milagre ou uma benção daquelas bem cabeludas, ou uma promessa de prosperidade financeira, ou uma revelação inédita? Não, nada disso!
Assim disse o Senhor: “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”. (Marcos 16:16 NTLH).
Esse é o Evangelho, o único Evangelho que Jesus comissiona aos seus ministros que preguem e pratiquem. Aqueles que dizem: “esperem por sentimentos!” “Aguardem impressões!” “Esperem ver sinais e maravilhas!”, pregam outro evangelho, que, na verdade, não existe, mas que só serve para desviar você da Verdade.
“Povos do mundo inteiro, voltem para mim, e eu os salvarei, pois eu sou Deus, e não há nenhum outro.” (Isaías 45: 22 NTLH).
Este é o evangelho de Deus!
Agora, “esperem no tanque” é o evangelho dos homens, que tem arruinado milhares de almas, é o evangelho imensamente popular, que não produz frutos, que tolera a filosofia mundana, o humanismo (filosofia que diz que o homem e a condição humana estão acima de todas as coisas), que aceita o Hedonismo (que é a filosofia que prega a busca do prazer a qualquer custo), este definitivamente não é o evangelho verdadeiro.
Se Deus tivesse dito, “sentem-se aí nesses bancos e esperem até que algo aconteça na sua vida”, mas não, o Senhor disse:
“Que as pessoas perversas mudem a sua maneira de viver e abandonem os seus maus pensamentos! Voltem para o SENHOR, nosso Deus, pois Ele tem compaixão e perdoa completamente”. (Isaías 55: 7 NTLH).
Não encontro no Evangelho Jesus falando coisa alguma aos Seus discípulos e a ninguém sobre esperar o tempo todo por algo que transforme suas vidas espirituais, mas sim, Jesus dizia sobre ir até Ele.
“O Espírito e a Noiva dizem: _Venha! Aquele que ouve isso diga também: _ Venha! Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida”. (Ap. 22: 17 NTLH).
Voltemos a Betesda. Ali está nosso pobre amigo, ainda esperando à beira do tanque. Eu não culpo aquele homem por esperar, pois Jesus não havia visitado aquele lugar antes, e o doente estava certo em querer aproveitar o que julgava ser até mesmo sua menor oportunidade de cura.
Foi triste, isso sim, o fato de Jesus ter sido ignorado por todos. Ele foi, certamente, abrindo caminho entre cegos, coxos, paralíticos, olhando com bondade para cada um deles, mas sem que nenhum deles olhasse para o Senhor.
Os olhos dos doentes estavam fixos tão somente na água, esperando que ela se movesse. Estavam tão concentrados em sua própria maneira de achar que seriam curados que o caminho verdadeiro da cura foi simplesmente negligenciado. Nenhuma misericórdia pôde então o Senhor distribuir antes daquele paralítico, pois ninguém a estava buscando.
Quantas vezes Betesda será repetido aqui nesta noite, e o Senhor será mais uma vez desprezado? E você me diz como?
*Eu desprezo o Senhor quando não valorizo os ensinamentos do Evangelho de Cristo, deixando de meditar durante a semana no que ouvi no domingo e na terça-feira.
*Eu desprezo o Senhor quando não guardo os princípios da Palavra de Deus para praticá-los no meu dia a dia.
*Eu desprezo o Senhor quando não busco conhecer a Sua Pessoa e o Seu caráter para fortalecer a minha igreja e refletir a Glória de Deus neste mundo.
O filósofo francês Voltaire, disse, certa vez:
“Mostre-me uma vida redimida e eu acreditarei em seu redentor”.
Talvez você já tenha ouvido este ditado:
“Não tente falar daquilo que você não costuma praticar”
Enquanto isso, no tanque, um homem doente, tantas vezes decepcionado, está cada vez mais desesperado. Além disso, está ficando velho, pois 38 anos é um período considerável da vida de um homem. Ele sentia, talvez, que iria morrer em breve.
Não seja como o bêbado tolo que, voltando para casa cambaleando certa noite, viu uma vela que, à falta de luz, fora deixada acesa para sua orientação, para que não tropeçasse e caísse. “Duas velas!”, disse ele, na visão dupla que sua embriaguez causava. “Vou apagar uma delas”, e foi, e, apagando-a, ficou totalmente no escuro.
Muitos têm uma visão dupla e falsa, devido à embriaguez causada pelo pecado; acham que podem viver a vida que possuem da maneira como querem, e que, no final de suas vidas, poderão se voltar para Deus.
Assim como o bêbado tolo, vão e apagam a única vela que possuem, ficando perdidos na escuridão para sempre.
Que Deus os abençoe!