1 Coríntios 11:23-26
Texto Base:
23 Porque eu recebi do Senhor [Paulo recebeu este ensinamento diretamente de Jesus (vd. 2 Co.12:1-4), por Quem ele foi nomeado apóstolo] este ensinamento que passei [i.e. de modo fiel] para vocês: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, pegou o pão 24 e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e disse: “Isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim. ”25 Assim também, depois do jantar, ele pegou o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança feita por Deus com o seu povo, aliança que é garantida pelo meu sangue. Cada vez que vocês beberem deste cálice, façam isso em memória de mim.” 26 De maneira que, cada vez que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, estão anunciando a morte do Senhor, até que ele venha. (1 Co.11:23-26 NTLH)
Eu pretendo falar com você nas próximas semanas, caso Deus permita, sobre o que denominamos e conhecemos como a “Santa Ceia do SENHOR”. Vamos meditar acerca do momento em que Jesus a ministrou aos Seus discípulos, sobre como ela deve ser celebrada pela Igreja como o “Corpo de Cristo” e como a “Ceia” declara os propósitos divinos à Igreja em relação à sua missão no mundo.
O ensinamento da “Ceia” é importante para a saúde da Igreja? Eu afirmo que sim, pois o discernimento equivocado, por parte de muitos cristãos, acerca da celebração da “Ceia”, tem prejudicado a vida espiritual e mental de muitos filhos de Deus. Em relação a isso, atentemos às palavras de Paulo:
29 Pois, a pessoa que comer do pão ou beber do cálice sem reconhecer que se trata do corpo do Senhor, estará sendo julgada ao comer e beber para o seu próprio castigo. 30 É por isso que muitos de vocês estão doentes [i.e. não são prósperos, abençoados como deveriam pelo SENHOR] e fracos [i.e. fragilizados de alma e mente, por não compreenderem os planos de Deus para suas vidas], e alguns já morreram [i.e. estão sepultados, mortos e não vivem mais sob a orientação e o poder de Deus]. (1 Co.11:29,30 NTLH)
Prestemos muita atenção aos dois adjetivos mencionados por Paulo no texto acima – “doentes e fracos”. Parece que o apóstolo menciona um caminho gradual que pode culminar com a morte como castigo (veja o verso 29). Na Bíblia, a “morte” pode significar duas coisas: a morte física (óbito, falecimento, o fim da existência física) ou a morte espiritual (afastamento de Deus e do estilo de vida que somente Ele pode dar e sustentar).
Alguns comentaristas ensinam que Deus decide, por meio da Sua autoridade e Seu poder, fazer com que uma pessoa seja salva e vá para a eternidade, antes que ela descambe de vez aos níveis mais baixos da sua vida espiritual e moral. Então, Ele a faz morrer prematuramente, para que a sua alma seja preservada da perdição eterna, e que pela morte prematura, a pessoa pare de pecar e ganhe a vida eterna.
Eu não tenho uma boa disposição para com esse ensinamento, pois o fato de Deus provocar a morte prematura de um cristão (“doente e fraco”, que escolheu não ter um compromisso sério, tanto espiritual como moral com Ele), fazendo-o morrer prematuramente, antes que se corrompa de vez, para que desse modo, a sua alma seja preservada para Si, para mim, é um tanto estranho! Jesus afirmou que aqueles que perseverarem até o fim, estes é que serão salvos (da presença de toda a malignidade humana e satânica)! (Mt.10:22; 24,13; Lc.21:19; Ap.2:7,10) Além do mais, Jesus disse que nem todos os que O chamam de SENHOR entrarão no Reino dos Céus. (Mt.7:21; Lc.6:46; 13:22-26)
Judas, o personagem em destaque nesta meditação, não foi perseverante para com os ensinamentos de Cristo, interpretou mal a Pessoa de Jesus durante todo o tempo em que andou com Ele e, portanto, viveu mergulhado em escuridão mental, enquanto ao lado do Mestre. Judas procurou em Jesus os seus interesses e não os de Deus. O curso da sua vida foi marcado pelos “adjetivos” mencionados por Paulo (doente e fraco), os quais o conduziram à morte (no caso dele, o suicídio), à separação eterna de Deus. Ele procurava em Jesus um modelo de líder que não correspondia ao caráter do Mestre.
1. Qual o tipo de igreja local ou de Jesus você procura?
As igrejas locais em nosso país têm aumentado em grande número e é comum encontrarmos ideias e mais ideias sobre como elas deveriam ser, esteticamente, liturgicamente (suas práticas) e no seu modo de pensar no mundo atual. Infelizmente, por não recorrerem às Escrituras Sagradas como à História da Igreja, muitos métodos adotados hoje, por muitos líderes, mais confundem do que esclarecem o Evangelho do Reino e a própria missão da Igreja em nosso mundo.
Tristemente, muitos procuram o “formato” e não o “conteúdo” e, sem este, acabam se envolvendo em uma fé morta e sem valor para Deus. O resultado disso é que não há transformação real de vida, confissão de pecados, arrependimento, maturidade cristã, comprometimento e uma visão clara de como se deve viver para a glória de Deus.
Quando mencionei que muitos buscam mais o “formato” do que o “conteúdo”, eu me refiro aos inúmeros comentários que ouço e leio, até mesmo de muitos cristãos. Muitos buscam uma igreja:
- Que seja muito legal e agradável;
- Que tenha boa sonorização e um palco artisticamente bem iluminado;
- Que tenha a mente aberta e não preconceituosa;
- Que tenha uma aparência moderna;
- Que tenha uma banda moderna, sincronizada e com música e ritmos bem atuais;
- Que a mensagem não seja acusadora, mas motivadora, positiva e atual;
- Que ela seja como um pronto-socorro;
- Que inspire alegria, festa e não tristeza e medo – um playground (?)
A busca pelo que é exterior ou periférico engana, distorce, extasia (causa sensações de alegria) e dá a falsa impressão de comprometimento com o Reino de Deus. Como eu tenho dito, o mundo é volúvel, instável e também traiçoeiro! Muitos estão na Igreja em nome de Jesus, mas, mesmo vivendo nela sob o espírito do “mundo”, isto é, na filosofia de vida contrária aos preceitos divinos – o “mundanismo”.
O que muitos não percebem é que esse estilo de “cristianismo” anula o “Cristianismo”, pois oculta os princípios bíblicos que são a fonte para uma transformação real, real, duradoura e biblicamente perseverante.
Na verdade, muitos não querem ver Jesus vestido em uma túnica, mas de shorts, lenço na cabeça, camiseta regata e chinelos bem esgarçados – um Jesus “pop” (popular). Outros querem vê-Lo com roupas de marca, óculos escuros, sapatos lustrados – um empresário bem-sucedido. Todavia, há os que O veem como alguém sem casa, dormindo nas ruas, comendo o que Lhe derem e vivendo sem precisar de muitos recursos. O modo como muitos enxergam a Igreja é o formato que dão a Jesus e vice-versa!
Que nós lutemos pela essência do Evangelho, a fim de nos mantermos nos propósitos divinos, para que nossas ações sejam realizadas para a glória de Deus – para que a Sua graça, amor, bondade, misericórdia, poder e justiça se manifestem, ou que sejam vistas. (Mt.5:16; 1 Pe.2:12)
Por que as pessoas não conseguem ver e crer no Evangelho como ele é? O apóstolo Paulo ensinou o seguinte:
Eles não podem crer, pois o deus deste mundo conservou a mente deles na escuridão [i.e. nas trevas, na ignorância de Deus e de Seus planos]. Ele [obscurecendo a mente e o discernimento] não os deixa ver a luz [i.e. o esplendor, a grandeza, a glória] que brilha sobre eles [querendo ir para dentro deles], a luz [i.e. o ensinamento, o conhecimento] que vem da boa notícia [i.e. da mensagem de Deus, do Evangelho] a respeito da glória de Cristo, o qual nos mostra como Deus realmente é [pois Jesus é a Imagem perfeita de Deus]. (2 Co.4:4 NTLH)
2. O modo como você vê a Jesus determina como serão suas decisões e até o seu destino final.
23 Porque eu recebi do Senhor [Paulo recebeu este ensinamento diretamente de Jesus, por Quem ele foi nomeado apóstolo] este ensinamento que passei [i.e. de modo fiel] para vocês: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído… (v.23 NTLH)
Paulo, ao compartilhar os ensinamentos de Jesus, não os mudou em nada! Não os distorceu! Ele passou os ensinamentos de Jesus aos cristãos de Corinto fielmente. Por quê? Ele viu Jesus como o SENHOR! Ele viu a Jesus como o Eterno – Aquele que nunca muda, mas que “SEMPRE É”, que “SEMPRE EXISTE” e que “SEMPRE ESTÁ”! (Hb.13:8)
Paulo O viu como o Governante de todas as coisas, tanto no Céu como sobre a Terra. (Mt.28:18) Paulo não viu a forma, mas a essência de Jesus. Ele não O viu como gostaria de vê-Lo, mas como Ele é!
Porém, Judas, um dos apóstolos, O viu de que forma? Como o Messias político que libertaria Israel de Roma e que implantaria o Seu Reino neste mundo naquela época! Ele e todos prosperariam, seriam independentes e estariam protegidos e livres de qualquer ameaça. O DEUS DESTE SÉCULO O CEGOU!
É muito interessante observarmos a frase no nosso texto base: “na noite em que foi traído…”. Judas O traiu à noite, na escuridão, escondido, porque era assim que ele vivia, nas trevas. Judas andou com Jesus três anos e não conseguiu vê-Lo como deveria, mas conservou na sua mente uma imagem distorcida do Messias. Dele, Judas queria prosperidade, bem-estar, total proteção, libertação de todos os males e inimigos. Ele desejava a vida conveniente, a que muitos, hoje em dia, querem – uma vida sem problemas, lutas, estresse e preocupações.
Garanto que quando Jesus falava sobre a implantação do Seu Reino (o qual se dará apenas no Milênio), Judas vibrava, mas quando falava em sofrimentos, na renúncia do “EU”, em amar os inimigos, em orar pelos perseguidores e injuriadores, ele não dava muito ouvidos. Ele era um interesseiro e não entendeu nada! Andou perto de Deus, mas o seu coração estava distante Dele! (Mc.7:6)
Na noite da última Ceia, Judas estava entre os discípulos, jantava com Jesus, o Eterno, o “Maior Tesouro”, a “Riqueza Única” à dignidade humana, a “Porta” para a eternidade, mas a sua mente estava absorvida por subsistência feliz por sobre a Terra. Judas não se importou com a essência, mas com o formato que procurou dar a Jesus. Ele percebeu de vez, que Jesus não era o Líder que esperava e ficou transtornado.
Como resultado da sua loucura mental, afastou-se da “Graça divina”, vendeu Jesus por trinta moedas de prata e, em vez de se arrepender, preferiu o suicídio, entregando a sua alma ao Inferno! Tudo foi acontecendo devagar. A cada dia, os seus olhos se fechavam pouco a pouco, mais e mais. Ele foi decrescendo de trevas em trevas e de infidelidade a infidelidade, ao contrário do que nos pedem as Escrituras, pois, como aluno do SENHOR, ele recusou ser parecido com o Seu Mestre! (2 Co.3:18)
Judas não buscou os alvos de Deus, mas os seus interesses pessoais, mesmo sabendo que Jesus havia ensinado que tal atitude era um grande erro. (Mt.10:39; 16:25) Quem busca agir por interesses próprios, sem observar os princípios divinos em suas ações e escolhas, se arrisca a desassociar-se dos princípios de Deus e avança sem Ele. Essa atitude se transforma em um hábito e a pessoa passa a viver sem Deus, morre sem Ele e eternamente viverá separado Dele!
3. A correta celebração da “Santa Ceia” abre nossos olhos à realidade do nosso compromisso com Jesus.
Não foi isso o que aconteceu com os dois discípulos que iam para Emaús que, após terem visto Jesus partindo o pão e dando graças a Deus, tiveram os seus olhos abertos? (Lc.24:30,31) Neste mesmo texto, é dito que a noite vinha chegando (Lc.24:29), quando convidaram Jesus para jantar com eles.
Os dois discípulos estavam abandonando (traindo) a Jesus, e o que o SENHOR fez? Já sentados à mesa, Jesus abençoou o “pão” que iriam comer! Então, naquele momento, seus olhos se abriram e eles deixaram de vê-Lo como um viajante para enxergá-Lo como Ele é – o SENHOR! Voltaram e contaram “fielmente” aos demais discípulos tudo o que lhes havia acontecido!
Judas estava traindo Jesus e o que Mestre fez? Partiu o pão, deu graças ao Pai e também deu a Judas. Entretanto, antes disso, Jesus afirmou que entre os Seus discípulos havia um traidor. Todos eles ficaram pasmos e começaram a perguntar quem seria essa pessoa! Então, Jesus disse:
É aquele a quem vou dar um pedaço de pão passado no molho! — respondeu Jesus. Em seguida pegou um pedaço de pão, passou no molho e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. (Jo.13:26 NTLH)
O SENHOR deu a Judas o que este sempre desejou, ou seja, ele não queria a natureza pura de Jesus, mas O queria com outro sabor! Judas nunca desejou a Jesus como Ele é, mas um Ser mais macio e que desse gosto ao seu paladar egoísta e interesseiro.
O texto bíblico diz a seguir que Satanás entrou na sua vida. Ele foi inteiramente dominado pelo Diabo, foi plenamente possuído por ele e a noite da sua alma se transformou em densas trevas, tornando-se assim, semelhante àquele que sempre o influenciou e a quem se submeteu.
Todo aquele que deseja Jesus ao seu próprio sabor e não se arrepende dessa maneira de agir, poderá cair na mesma cilada de Judas: ser influenciado ou até possuído por demônios! Eu sei que essa declaração é muito forte e assustadora, mas é o que o texto nos mostra e é o que pode acontecer àquele que não aceita os propósitos divinos em Jesus e à Sua Igreja como devem ser.
Diferentemente dos discípulos que estavam indo para Emaús, Judas não se arrependeu, traiu Jesus por ganância, pela busca do prazer pessoal e, sendo largado por Satanás, permitiu que a culpa se apoderasse da sua mente; assim, cheio de remorso, moído por dentro e com uma profunda sensação de mal-estar, suicidou-se!
Aquela foi uma noite terrível! Foi A NOITE DA TRAIÇÃO, a qual fez Jesus ficar muito aflito, angustiado e ao ter de declarar a presença de um traidor em meio a todos. Na verdade, um traidor, em algum momento da convivência, se mostra como um grande amigo!
Os verdadeiros amigos de Jesus não são os que dizem gostar Dele, mas os que procuram fazer a Sua vontade. (Jo.15:14)
Portanto, a “Santa Ceia” deve ser celebrada para que nossos olhos se abram para a essência da Pessoa de Jesus, a fim de que Ele seja aceito como Ele é. Portanto, não pense que ao participar da “Ceia”, Deus estará feliz com você, pois, dependendo do seu estilo de vida e, fazendo uso de uma linguagem figurada, poderá estar provocando dores no Seu coração!
Deus deseja que nós nos arrependamos do modo vazio com que temos praticado a vida da Igreja e o Cristianismo, e isso deve ser com pressa! Porém, Satanás e seus demônios tentarão nos cegar aos poucos, para que a grandeza de Cristo não resplandeça em nossas mentes e não tenhamos um compromisso sério com Ele.
34 Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de você são bons, todo o seu corpo fica cheio de luz. Porém, se os seus olhos forem maus, o seu corpo ficará cheio de escuridão. 35 Portanto, tenha cuidado para que a luz que está em você [i.e. o seu entendimento, interpretação, opinião] não seja escuridão [i.e. ignorância das coisas divinas]. (Lc.11:34,35 NTLH)
A minha esperança é que eu não caia na tentação de procurar Jesus de um modo que seja agradável a mim, mas que eu procure ser melhor e agradável a Ele. Que eu não crie uma imagem fantasiosa acerca de Jesus, mas que eu viva para Ele e por meio Dele, até que O encontre na Eternidade, contando sempre com as misericórdias de Deus.
Que meus os olhos sempre estejam abertos à Sua Luz, a fim de que as trevas que ainda habitam em mim (na minha natureza humana) se dissipem. Desse modo, terei coragem para não trazer ao Cristianismo uma roupagem mundana, a qual não possui valor algum ao Reino de Deus! Que eu sirva o meu SENHOR enquanto é dia, antes que o “terror da noite” chegue! (Jo.9:4)
Que Deus nos abençoe!