Jó 5:17,18
Texto Base:
17 “Feliz é aquele a quem Deus corrige! Por isso, não despreze o castigo do Deus Todo-Poderoso. 18 “Deus fere, mas ele mesmo faz o curativo; ele machuca, mas as suas mãos curam.” (Jó 5:17,18 NTLH)
Vamos procurar entender o que o texto está nos dizendo:
17 “Feliz [bem-aventurado, abençoado] é aquele a quem Deus corrige [disciplina, reprova, castiga, repreende para argumentar]! Por isso, não despreze [não rejeite ou repudie] o castigo [a correção, a disciplina, a repreensão] do Deus Todo-Poderoso. 18 “Deus fere [causa a dor e a ferida], mas ele mesmo faz o curativo; ele machuca, mas as suas mãos curam [trazem a saúde].” (Jó 5:17,18 NTLH)
O nosso texto expressa as suposições de Elifaz em relação à vida de comunhão de Jó com Deus (vd. Jó, capítulos 3-5 – em síntese: “Será que Deus não o está punindo por algum pecado grave?”). Eu não vou comentar toda a fala de Elifaz e nem todas as razões de Jó ter enfrentado aquela situação. Por hora, façamos uma breve observação nos dois versos que lemos:
O que nós podemos observar sobre Deus?
- Ele castiga Seus filhos com a finalidade de gerar uma argumentação interior sobre os caminhos que estes estão escolhendo;
- Ele machuca Seus filhos, não por terem feito algo errado (neste caso, o de Jó), mas para que sirvam de exemplos a gerações futuras;
- Deus causa a ferida, mas Ele mesmo traz a cura.
O que podemos observar acerca do homem que é ferido por Deus?
- Ele é feliz, abençoado ou bem-aventurado, pois aceita a Deus como Pai;
- Humildemente, ele aceita a disciplina divina e a reconhece como um ato da bondade divina;
- Ele crê que Deus tem o direito de afligir sua alma, a fim de que possa servir aos Seus propósitos.
O texto base é destinado a mostrar que as aflições são seguidas por vantagens tão importantes aos filhos de Deus no Seu Reino, que deveriam se submeter a elas sem queixas, pois o SENHOR deseja que eles participem tanto da Sua santidade como da Sua Glória (esplendor ou grandeza).
- Nota: O sentimento nestes versículos, provavelmente é mencionado no livro de Tiago (Tg.1:12), em Provérbios (Pv.3:11,12) como no livro aos Hebreus (Hb.12:3-13).
Jó está recebendo de Elifaz uma repreensão, devido às suas reclamações descritas no capítulo 3, onde: ele amaldiçoa o dia do seu nascimento; pede que Deus não se importe com ele; que sua mãe tivesse feito um aborto às escondidas para que ele não existisse; revela seus medos e o seu presente estado emocional (cansado, perturbado e inquieto).
O argumento ou pensamento de Elifaz é que Jó merecia tal punição divina. Porém, nós sabemos que isso não é a verdade, pois no início do livro, Jó é elogiado por Deus e tudo o que lhe aconteceu foi por uma permissão divina, sem que houvesse uma causa de erro espiritual e moral graves na vida do patriarca.
A vida de Jó, quando mal interpretada, tem feito com que muitos duvidem do amor e da bondade de Deus e O julguem como sendo cruel, porque Ele faz o que quer com Seus filhos. Essas pessoas dizem: “Como pode? Deus ajuda aos Seus filhos e, ao mesmo tempo, os maltrata! Isso é justo? Portanto, Deus é bom? Ele é amor?”. Essas pessoas não entendem a soberania divina.
1. A soberania divina sempre deve ser respeitada por aqueles que O conhecem.
Deus faz o que quer porque Ele é Soberano, mas os Seus atos não são como os de um tirano! Entretanto, Ele limita as Suas ações ao que entendemos ser o mais correto. Os planos divinos são muito elevados e o nosso entendimento não é capaz de entendê-los, quanto mais suportá-los. Por essa razão, nós devemos humildemente, como seres criados por Ele, reconhecer o Seu poder, o Seu domínio (sobre tudo e todos) e temê-Lo, para que o nosso coração não seja absorvido por sentimentos de amargura.
Pois bem! Deus é o Criador de todas as coisas e os Seus planos são insondáveis. Ele pode fazer o que quiser e nós jamais seremos capazes de entendê-Lo plenamente. Se não absorvermos isso, dificilmente teremos um desenvolvimento cristão saudável. Paulo diz:
Como dizem as Escrituras Sagradas (cf. Is.40:13; vd. Jó 21:22): “Quem pode conhecer a mente do Senhor? Quem é capaz de lhe dar conselhos?” Mas nós pensamos como Cristo pensa [temos em nós os próprios pensamentos divinos, através da mente e do Espírito de Cristo]. (1 Co.2:16 NTLH)
O apóstolo Paulo disse:
14 O que vamos dizer, então? Que Deus é injusto? De modo nenhum! 15 “Pois ele disse a Moisés: “Terei misericórdia de quem eu quiser; terei pena de quem eu desejar.” (Rm.9:14,15 NTLH)
Esta passagem se refere aos dois filhos de Isaque, Jacó e Esaú. Naquela época, o filho mais velho (o primogênito) seria o herdeiro de todas as coisas do seu pai, isto é, ele assumiria o patriarcado. Porém, o contexto (Rm.9:6-14) nos diz que Deus escolheu Jacó (o segundo filho e não o primeiro – Esaú) como aquele que herdaria as coisas de Isaque. Deus “decidiu” que assim fosse, antes que fizessem o bem e o mal. Portanto, essa ação foi um ato da soberania de Deus.
Com toda a certeza, Esaú se sentiu machucado e passou a odiar o seu irmão Jacó, o qual teve que formar a sua família em outras terras distantes, e assim, fugir da ira de seu irmão. Não vou contar toda a história, mas você sabe que Esaú, mais tarde, fez as pazes com Jacó, e este cumpriu os desígnios divinos (após o que ocorreu no Vale do Jaboque).
Quando falamos sobre a soberania divina, há uma verdade que devemos ter na mente: a soberania divina deve ser respeitada. O próprio Jó, mais à frente, declarou o seguinte:
13 “Deus faz o que quer; quando ele decide fazer alguma coisa, ninguém pode impedir.” 14 Ele levará até o fim o que planejou fazer comigo e também realizará todos os seus outros planos. (Jó 23:13,14 NTLH)
Jó reconheceu o poder, o domínio e a soberania divina e não lutou contra Deus. Saiba que nem sempre entenderemos a situação na qual Deus nos insere; todavia, quando estivermos dentro de algum desses momentos, que nós nos andemos no temor do SENHOR, esforçando-nos a colocar em prática o que temos aprendido através da Palavra de Deus.
A soberania divina deve sempre ser respeitada e temida. Portanto, não duvidemos da Sua bondade quando Ele realiza algo que, à primeira vista, nos parece estranho e injusto, pois é Ele Quem comanda todo o mundo. O salmista afirmou o seguinte:
“Pois o SENHOR, o Altíssimo, deve ser temido [Ele inspira respeito, medo, reverência, pavor, espanto]; ele é o grande Rei que governa o mundo inteiro.” (Sl.47:2 NTLH)
O fato de uma pessoa se sentir confusa com tudo aquilo que Deus faz é normal. Ela, durante todo o seu tempo de vida, tem aprendido que Deus é amor e, então, ela pensa: “Como Ele pode machucar Seus filhos?”. Um dos seus problemas é que ela não entende tanto a soberania divina como o significado do que é temer ao SENHOR e, penso eu que muitos dos que estão dentro de uma igreja local também não entendem! Vamos ler o que está escrito no livro dos Salmos:
Ele abençoará todos os que o temem [os que têm medo Dele, que tremem diante Dele], tanto os importantes como os humildes. (Sl.115:13 NTLH)
O cristão que não teme e não treme diante de Deus nunca conheceu, de fato, o Seu poder, pois até os demônios tremem de medo diante do Único SENHOR! (cf. Tg.2:19) O poder de Deus é muito maior do que um bilhão de bombas de hidrogênio explodindo juntas e a Sua santidade ou pureza brilha mais do que um milhão de galáxias juntas!
Então, sendo Deus um Ser tão esplendoroso, quem pode entender as Suas misteriosas ações? Portanto, tremer diante de um Deus tão poderoso não deve ser algo irracional, mas normal àqueles que O conhecem. Contudo, Deus nos poupa de entendermos muitas das Suas ações, para não ficarmos enlouquecidos, porém, mais à frente, compreendemos os objetivos ou os propósitos eternos das mesmas, pois Ele nunca age de modo impensado ou não planejado.
2. Deus sabe o que faz e não pode ser impedido em Suas ações.
Deus não é um tirano, opressor, prepotente, egoísta e nem casual. Tudo o que Ele faz tem propósitos elevados, pois as Suas ações estão enraizadas nos Seus atributos ou nas propriedades do Seu caráter. Então, nós temos que “aprender a conviver” com todos os atributos divinos e nunca escolhermos os que nos convém. Dou três exemplos:
- Deus é amor, mas Ele despreza aqueles que distorcem a Sua imagem e Verdade. (vd. Rm.1:18-32)
- Deus é zeloso e paciente, mas também é fogo consumidor. (vd. Gl.6:7; 1 Co.6:9,10; Hb.12:28,29; Gn.19:1-29)
- Deus é bom e tudo o que faz visa o bem, mas, às vezes, para que o homem O veja mais claramente (Sua Pessoa, princípios, Verdade e a Vida Verdadeira), Ele permite que o mal o atinja. (vd. 2 Cr.7:13,14)
Há muitos outros atributos divinos; entretanto, eu desejo que você compreenda que o Seu amor e bondade não O impede de disciplinar duramente aos Seus filhos e a Sua correção é um ato da Sua bondade!
Por outro lado, quando Deus permite que Seus filhos sofram e não por terem sido rebeldes na prática insistente do que é mal, isso Ele faz pelo direito que possui (Ele é o SENHOR). Em segundo lugar, para que as gerações futuras os vejam como exemplos de homens e mulheres fiéis, confiantes e submissos à soberania de Deus. Há uma verdade da qual os cristãos sempre se esquecem: Quando nos entregamos a Cristo, nós abdicamos do direito de sermos donos de nossas vidas!
Quando você recorre às Escrituras, notará que nas suas histórias a soberania divina é revelada em situações, às quais descrevo como agradáveis e desagradáveis; porém, em todas elas havia um propósito divino. Por exemplo:
- Estêvão é apedrejado. (cf. At.7) A Igreja começou a se espalhar por toda parte, devido à perseguição.
- Um anjo liberta o apóstolo Pedro da prisão. (cf. At.12:1-10) Os cristãos viram o poder de Deus e se encheram de temor.
- A ressurreição de Dorcas. (cf. At.9:36-42) A notícia se espalhou e muitos creram em Cristo.
- Paulo não foi curado pela decisão de Jesus. (2 Co.12:7-10) O apóstolo nos serve de exemplo que podemos ser fortes, mesmo sendo frágeis.
- O que dizer de Hebreus 11:32-40? Deus pode nos usar para realizarmos grandes feitos e também permitir que soframos as ações mais cruéis por parte dos inimigos do Evangelho. Entretanto, o objetivo final deve ser alcançado por todos: a aprovação divina e as promessas eternas.
A fé desses homens e mulheres nos serve de exemplo, a fim de sermos perseverantes, pois, como eles, nós participaremos de recompensas ainda melhores que já estão preparadas. (vd. Hb.11:40)
Quando povo de Israel foi levado para o cativeiro na Babilônia, isso se deu devido à sua rebeldia. Eles foram chamados “muitas vezes” ao arrependimento pelos profetas, por estarem adotando costumes pagãos e, então, Deus “decidiu” castigá-los (machucá-los). Deus foi tirano? Claro que não! Foi um ato soberano, cheio de misericórdia e de bondade, pois Ele, a exemplo de um pai zeloso, sempre disciplina Seus filhos. Contudo, nem todos os judeus eram rebeldes (ex. Jeremias, Ezequiel e tantos outros), porém, tanto os rebeldes como os que não eram insubmissos, “foram machucados” pela “soberana” decisão divina.
Eu não tenho dúvida de que todos gritaram por socorro, mas Deus, soberanamente, “decidiu” machucá-los (os bons e os maus) e conduzi-los como escravos à Babilônia. Lá, os rebeldes teriam a oportunidade de reconhecerem a condição em que se encontravam, tanto espiritual como moral, a fim de que “se arrependessem” de seus pecados e erros cometidos com insistência.
Deus poderia ter decidido exterminar somente os rebeldes e poupar os obedientes, mas, “soberanamente”, decidiu que todos deveriam ser levados cativos e que todos entendessem a Sua mensagem (como se Ele dissesse): “Vocês não ouviram os meus mensageiros, porque gostam da idolatria, do ocultismo, da feitiçaria e do paganismo; então, vou conduzi-los ao berço dessas coisas e lá (na Babilônia), os seus olhos se abrirão (após 70 anos) e sentirão falta de uma vida de comunhão Comigo e de tudo o que perderam!” Veja que interessante o que está escrito no Salmo 137:
1 (Salmo de Davi) Sentados na beira dos rios da Babilônia, chorávamos quando lembrávamos de Jerusalém. 2 Penduramos as nossas liras nas árvores que havia ali. 3 Aqueles que nos levaram como prisioneiros mandavam [solicitavam com insistência] que cantássemos. Eles diziam: “Cantem para nós as canções de Sião.” (Sl.137:1-3 NTLH)
Estes três versos expressam a nostalgia ou a tristeza, as lágrimas de saudade de tudo o que Deus havia lhes dado e que perderam, devido a uma vida cheia de pecados e de rebeldia a Ele e aos Seus propósitos. Eles deixaram de celebrar a Deus, o SENHOR (o dono) de suas vidas e, agora, os babilônios é que mandavam (por zombaria? Eu não saberia explicar), é que pediam que cantassem “para eles” as canções que deveriam ter cantado para Deus! Era uma condição humilhante. Leia o restante do Salmo 137 e observe a condição emocional daquele povo.
Porém, depois dos 70 anos de cativeiro terem se cumprido, Deus trouxe o Seu povo de volta a Jerusalém, e como Davi descreveu a reação dos israelitas no Salmo 126?
1 (Canção de peregrinos) Quando o SENHOR Deus nos trouxe de volta para Jerusalém, parecia que estávamos sonhando. 2 Como rimos e cantamos de alegria! Então as outras nações disseram: “O SENHOR fez grandes coisas por eles!” (Sl.126:1,2 NTLH)
Imaginemos o dia em que entrarmos na Eternidade e vermos a Glória do SENHOR face a face e tudo o que Ele preparou para nós na Sua morada! Tudo o que vemos do Seu poder nesta vida é apenas uma fagulha do que veremos diante Dele!
Que nós sejamos submissos a Ele, à Sua soberania e que sempre O tenhamos como um Pai amoroso, bondoso e que zela pelos Seus filhos, para que estes possam viver ao Seu lado para sempre! Que a nossa fé seja verdadeira e não um produto de crenças pessoais ou uma deformação do que ela, por finalidade divina, verdadeiramente deve ser.
3. A fé verdadeira se rende tanto à soberania de Deus como às Suas ações, pois elas expressam a Sua bondade e amor.
Saiba que quando você “insiste” no erro, Deus o corrigirá e Ele poderá usar momentos de aflições, a fim de educá-lo. Entretanto, Deus poderá fazer com que você sofra aflições “sem ter cometido mal algum” (como já expliquei e exemplifiquei), a fim de que sirva de exemplo de humildade, submissão e fidelidade aos Seus propósitos a muitos irmãos na fé.
Em qualquer uma dessas situações, permita que o Espírito Santo abra os seus olhos espirituais, a fim de que eles possam ver a grandeza, o esplendor e a Glória de Deus, assim como a Sua eterna bondade e amor! Paulo diz:
35 Então quem pode nos separar do amor de Cristo? Serão os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição, a fome, a pobreza, o perigo ou a morte? 36 “Como dizem as Escrituras Sagradas: “Por causa de ti estamos em perigo de morte o dia inteiro; somos tratados como ovelhas que vão para o matadouro.”” 37 Em todas essas situações temos a vitória completa por meio daquele que nos amou. 38 “Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro;” 39 nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor. (Rm.8:35-39 NTLH)
A minha esperança é que com a ajuda do Espírito Santo e da Palavra de Deus, superemos as nossas fragilidades mentais, emocionais e perseveremos na sã doutrina, crendo sempre que Deus é o SENHOR (o nosso Dono) e que tudo o que faz é bom, porque Deus é “Bom” e é “Amor”. Que a nossa fé seja verdadeira e não um produto das nossas imaginações e competições religiosas infantis!
Que Deus nos abençoe!