Salmos 147:5
Texto Base:
Grande é o nosso Soberano e tremendo é o seu poder; é impossível medir o seu entendimento. (Sl.147:5 NVI)
Em momentos de tragédias, como reconciliar a nossa compaixão por aqueles que sofrem crendo na soberania de Deus? Qual é a razão de sentirmos compaixão, sabendo que tudo o que está acontecendo é a permissão de Deus?
Neste momento, alguma tragédia está acontecendo em nosso mundo e não importa suas dimensões. Podemos definir uma tragédia como sendo uma catástrofe, calamidade, adversidade, desgraça, fatalidade, infortúnio, revés etc.
Esta semana, no Rio de Janeiro, um jovem de 14 anos foi baleado por uma ação policial que, segundo testemunhas, foi feita de modo equivocado. Segundo a família, a vida do garoto era casa, igreja e videogame no celular. Nós não podemos dizer que isso tudo não pode ser considerado uma tragédia?
Então, uma questão: “A morte desse garoto estava determinada por Deus?” Todavia, você tem que examinar a situação sob a soberania e a onisciência divina, isto é, Suas determinações, decretos e o atributo de ver todas as coisas e fatos por antecipação – Deus conhece todas as coisas, sem que elas antes aconteçam. “Isso é um pouco complicado para você?”
1. Os seus dias estão contados ou estabelecidos por Deus
O livro de Jó nos ensina o seguinte:
“Tu já marcaste quantos meses e dias cada um vai viver [i.e. os dias da nossa vida já estão determinados]; isso está resolvido, e ninguém pode mudar [i.e. Deus colocou os limites dos nossos dias e nenhum dia será acrescentado].” (Jó 14:5 NTLH)
Deus é o SENHOR do tempo. Eu não sei quando e como morrerei, mas sei que esse dia chegará. Eu não posso afirmar que terei uma morte tranquila ou que ela acontecerá em uma tragédia. O fato é que a morte é um fato que eu não posso controlar.
2. Saiba que é impossível adiar o dia da sua morte
A sabedoria divina nos diz o seguinte:
Ninguém pode dominar [i.e. ser soberano sobre] o vento, nem segurá-lo [i.e. retê-lo, impedi-lo, limitá-lo, proibi-lo ou fazê-lo calar]. Assim também ninguém pode evitar [i.e. ter o senhorio ou ser soberano sobre] a morte, nem deixá-la para outro dia [i.e. nem dizer à morte que venha noutro dia]. Nós [i.e. como pessoas impuras e más] temos de enfrentar essa batalha [i.e. guerra interior], e não há jeito de escapar. (Ec.8:8 NTLH)
Nós não somos senhores da vida e, por isso, não conseguimos predizer o tempo exato em que existiremos sobre a Terra. A vida de quem conhecemos e amamos pode terminar em alguns minutos ou horas. Nós existimos pela vontade de Deus, pois foi Ele quem nos formou no ventre materno e determinou como seriam os dias da nossa existência. (Sl.139:13-16)
Saiba que a dificuldade e o desafio para aceitarmos essas verdades bíblicas não pertencem somente a nós, mas o próprio Davi (o escritor do Salmo 139) carregava em si o mesmo pensamento e sentimento de complexidade que temos. Entretanto, para Davi, o mais importante era ter a certeza da presença de Deus em sua vida. (Sl.139:17,18) Davi sabia que tudo o que lhe acontecia e também com o povo de Deus não era obra do acaso, mas situações pré-determinadas pelo SENHOR.
Davi escreveu o Salmo 139 para falar de três atributos ou características pessoais de Deus: Sua Onisciência (Sl.139:1-6), Onipresença (Sl.139:7-12) e Onipotência (Sl.139:13-18). Além disso, o salmista demonstra a sua indignação contra os ímpios ou impuros de coração. (Sl.139:19-22) Por outro lado, ele não se mostra hipócrita, pois pede a Deus que sonde o seu coração, a fim de que lhe mostre algo que pudesse rivalizar com Ele. (Sl.139:23,24)
Davi buscava o caminho da pureza de mente e, por isso, desfrutava da presença de Deus. Segundo Jesus, aquele que não se esforça para manter sua mente limpa pelo trabalho, tanto da Sua Palavra como do Espírito Santo, não verá a Deus. (cf. Mt.5:8)
Mesmo sabendo que Deus, por meio da Sua Onisciência e Onipresença, conhecia plenamente Seus adversários, e que, para Ele, o ódio inimigo não O atingiria (Deus é Onipotente), Davi não escondeu o seu “sentimento de repugnância” em relação aos maus, que trocam a pureza pela impureza. Ao expressar o seu sentimento a Deus, Davi não considerou o controle divino sobre todas as coisas, mas ele mostrou os seus sentimentos humanos profundos, após a sua reflexão sobre a grandeza e a pureza de Deus.
3. Seja um agente para a pureza e não um propagador da impureza
Muitos questionam: “Deus faz o mal às pessoas? Portanto, às vezes Ele é Bom e noutras é mal? Até que ponto Deus é realmente puro?” Deus sempre é bom e puro! Nele não existe nenhum traço de maldade e impureza. Ele criou o ser humano à Sua imagem e semelhança, isto é, para espelhar ou refletir Seus atributos ou caráter. (Gn.1:27) Então, o homem foi criado para ser bom e viver pelo princípio da pureza; porém, toda a criação divina não é perfeita, pois só Ele é Perfeito. Deus não cria sósias ou outros deuses, mas é o homem quem os cria em um gesto de arrogância e rejeição a Ele.
O homem afastado de Deus se torna em um agente que provoca o mal contra si mesmo e aos que dele são próximos. Contudo, o mal só pode ser praticado por quem é bom, pois ele conhece por definição o bem. O ladrão não nasceu como um tomador das coisas alheias, mas ele escolheu ser o que é. Ele sabe que aquilo que faz não é bom e, por isso, ele se esconde.
Adão tentou se esconder de Deus após ter transgredido as Suas ordens. Para que o mal exista, tem de haver a negação da bondade e, para isso, é necessário que o agente do mal tenha inteligência e uma consciência moral. Eu pergunto: “A inteligência e a consciência moral (a realidade do que é certo e errado) existentes no ser humano são características más?” Claro que não!
Satanás era um bom anjo (da classe dos querubins), mas, por decisão própria, abandonou a pureza, se encheu do mal e pela sua constituição se transformou na própria personificação do mal, disseminando no Céu a sua personalidade má, a qual afetou um terço de todos os anjos.
Tudo o que Deus criou, segundo o livro de Gênesis, foi “bom”. O mundo foi criado para ser um bom lugar, mas por que vem se tornando cheio de maldades? Isso se deve ao homem afastado de Deus!
Jó declara o seguinte:
O ser humano, que é impuro, nunca produz nada que seja puro. (Jó 14:4 NTLH)
Portanto, Deus é puro e tudo o que criou foi para o benefício do homem. Entretanto, devido ao seu afastamento de Deus, passou a propagar a sua condição de impureza a todos os setores da vida, trazendo malefícios não só a si mesmo como a muitos que o cercam. Em suma: a impureza passou a competir com a pureza divina!
A impureza de mente denota claramente a vida afastada de Deus, pois não há comunhão entre luz e escuridão! O impuro se deixa levar pelos seus sentimentos e desejos próprios. Ele não pensa em ninguém, a não ser em si mesmo. É orgulhoso, egoísta, corrupto e trapaceiro, pois só pensa nos seus próprios interesses.
Davi, no Salmo 139, exclamou a Deus: “O meu desejo é que o SENHOR destrua os maus deste mundo!” (Sl.139:19) Porém, Deus determinou que isso não será feito, pois todos nós somos potencialmente maus e eu me refiro tanto ao religioso como àquele que não é.
Jesus estava caminhando e viu um homem cego de nascença. Logo, veio a pergunta: “Quem pecou para que nascesse com tal deformidade? Ele ou alguém da sua família?” Jesus disse que não era nem uma coisa, nem outra, mas que ele havia nascido assim para a glória de Deus. (Jo.9:1-3) Jesus cuspiu no chão, fez barro com a Sua saliva e pediu para que o cego lavasse os olhos no Tanque de Siloé. O homem foi, lavou seus olhos e enxergou!
O que os líderes religiosos fizeram? Em vez de se alegrarem com o milagre constatado, encheram seus corações de sentimentos terríveis, porque a cura se deu em um dia, marcado pela religião (sábado judaico), no qual quase nada se podia executar. Para eles, líderes religiosos, uma cura feita no dia do “Sábado” era uma calamidade!
Reconheçamos que para eles, Deus não tinha o direito de realizar nada naquele dia! O sentimento que expressaram foi o de zanga, ódio e rejeição. Entretanto, aquele cego não cruzou o caminho de Jesus por acaso, mas pela vontade eterna divina. Tudo estava já programado desde a eternidade!
Jesus não poderia ter impedido o ódio dos líderes religiosos e esperar mais um dia para realizar o milagre? Ao observar o cego, Jesus teve consideração, pena, dó e agiu com misericórdia – deu a ele o que mais ansiava; por outro lado, os religiosos gostariam que ele continuasse cego!
Tudo aquilo aconteceu pela permissão divina, a fim de que os olhos das pessoas fossem abertos e que não só vissem as ações maravilhosas de Deus, mas que percebessem a hipocrisia e a vida mentirosa dos líderes religiosos.
4. Aprenda a chorar com os que choram, a se alegrar com os que se alegram e a indignar-se contra o pecado
Jesus sabia que o cego seria curado, mas, mesmo assim, teve consideração ou pena dele. Do mesmo modo, Jesus chorou no dia da ressurreição de Lázaro, mesmo já tendo dito, quatro dias antes, que ele ressuscitaria.
No passado, Deus chamou Jonas para pregar aos ninivitas e a muito custo ele obedeceu. Tudo aconteceu como fora determinado por Deus, mas qual foi a reação do profeta? Raiva, desânimo e depressão. Deus estava querendo ensinar com a situação algo para o Seu povo e para todo o mundo – que Ele é Soberano. Jonas não se alegrou com os que receberam a graça divina em Nínive! Para Jonas, o fato de Deus perdoar os pecados dos maiores inimigos de Israel era uma grande calamidade!
Se nós estamos diante de uma situação e sabemos que Deus poderia ou não tê-la impedido é porque Ele tem um objetivo. Nós nunca devemos tirar conclusões irracionais e antibíblicas.
Diante de tudo o que vimos, eu chego a uma conclusão e a exponho da seguinte maneira:
- Que eu creia que Deus tem motivos elevados para permitir tragédias e calamidades.
- Que eu respeite a soberania divina e os Seus decretos.
- Que as minhas reações diante das calamidades sejam bíblicas, tendo compaixão pelas pessoas que sofrem, indignação pelo pecado e que haja dentro de mim um desejo de estar com pessoas e ajudá-las.
Que Deus nos abençoe!