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Lidando com as suas decepções – Parte 2: Quando nos decepcionamos com Deus

Texto base:

Mateus 11:2,3

Como vocês já perceberam, eu quero dar continuidade a esse tema que dei início há duas semanas (16/07/2024, que fala sobre a decepção e como devemos lidar com ela. Eu entendo que se não soubermos tratar corretamente esse sentimento, corremos o risco de nos afastar de Deus e dos Seus Planos, devido à frustração e o descontentamento que ela provoca.

Naquela oportunidade, constatamos que a decepção é muito comum em nossos relacionamentos interpessoais. Eu até fiz um teste perguntando quem já se decepcionou com pessoas e todos levantaram as mãos.

Isso só comprova que somos seres imperfeitos e limitados, com uma natureza humana egoísta e orgulhosa e, portanto, passíveis de erros. Por isso, não devemos criar esperanças ou grandes expectativas sobre pessoas falíveis, as quais podem nos decepcionar, pois nós também as decepcionamos.

O próprio Senhor diz:

O SENHOR Deus diz: “Eu amaldiçoarei aquele que se afasta de mim, que confia [i.e corre em busca de refúgio, segurança e proteção ao confiar em alguém ou alguma coisa] nos outros, que confia na força de fracos seres humanos. (Jeremias 17:5 NTLH).

Em outra versão mais conhecida está assim:

Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! (Jeremias 17:5 ARA).

Se o próprio Deus diz que amaldiçoará aquele que se afasta Dele por confiar na força de fracos seres humanos, por que persistimos em criar expectativas depositando esperança em quem é falho como nós?

A razão é que muitas vezes as nossas perspectivas são terrenas e mundanas e por isso confiamos mais em pessoas do que na providência divina. Desejamos mais as coisas deste mundo do que a Eternidade, amamos mais o presente século e o que ele nos oferece do que as promessas eternas oferecidas por Deus.

Quando os nossos interesses egoístas não são satisfeitos, como conseqüência, a decepção, a frustração e o desapontamento passam a dominar os nossos pensamentos, sentimentos e ações, e nos tornamos pessoas descrentes, sem esperança e insatisfeitas com Deus.

Sabe onde encontramos muitas destas pessoas descrentes? Dentro das igrejas, o “lugar” onde menos deveríamos encontrar esse tipo de pessoa, pois o Evangelho a conduziria a ter confiança primeiro em Deus, por meio do conhecimento do Seu caráter, e não em pessoas.

Além disto, o Evangelho ensinaria essas pessoas a serem agradecidas por tudo, pois a sua verdadeira esperança e satisfação não está neste mundo, mas na Eternidade, ao lado do seu SENHOR.

No entanto, não é bem assim o que temos visto. Muito do que se ensina nas igrejas é sobre uma “fé imaginária”, terrena, fantasiosa e egoísta, como aprendemos na semana passada com o Walter (21/07/2024), onde imagina-se um Deus que está disposto a satisfazer os desejos mais egocêntricos e individualistas das pessoas, sem se importar com o modo como elas dirigem suas vidas.

Mas, quando Deus não realiza o que aquela pessoa idealizou como sendo a solução dos seus problemas ou o sonho de sua vida, logo ela se frustra, desanima e perde o desejo de desfrutar dos recursos de uma vida cheia da Graça, passando agora a viver insatisfeita com a vida, com as pessoas, com Deus e até consigo mesma.

É sobre isso que eu quero compartilhar: Quando a nossa decepção é com Deus e não com pessoas!

Todos nós já ficamos decepcionados com Deus. Em algum momento, quando Ele fica em silêncio ou não responde às nossas orações de acordo com os nossos desejos, nos decepcionamos. Quando oramos para Ele curar uma enfermidade de um ente querido ou um amigo próximo, mas essa pessoa vem a falecer, como nos sentimos? Quando aquela oportunidade que tanto pedimos a Deus e esperávamos não acontece, também nos frustramos.

Talvez você esteja orando e esperando a resposta de Deus sobre uma situação e ela ainda não veio. Talvez você esteja esperando em Deus a salvação do seu casamento, a transformação do seu cônjuge, do seu filho, a libertação de um vício ou a união de sua família, porém nada mudou ainda.

São inúmeras as situações que levamos a Deus e esperamos a Sua providência, mas, por alguma razão o SENHOR não nos atende. Então, como devemos enfrentar com honradez a realidade das decepções na vida cristã? Como encontrar Jesus no cruzamento da expectativa com a decepção? Essa é a proposta da nossa meditação.

Vamos entrar em nosso texto base e aprender com a experiência de João Batista, quando teve de enfrentar a dura realidade diante de uma expectativa frustrada em seu ministério.

2 João Batista estava na cadeia e, quando ouviu falar do que Cristo fazia, mandou que alguns dos seus discípulos 3 fossem perguntar a ele: — O SENHOR é aquele que ia chegar ou devemos esperar outro? (Mateus 11:2,3 NTLH).

Vamos entender melhor o contexto desta passagem para compreendermos o motivo de sua prisão e a razão de sua pergunta.

Primeiramente, quem foi João Batista?

Ele foi um profeta enviado por Deus a fim de preparar o povo de Israel para a vinda do Messias (Mt 3:3). Sua mensagem levava as pessoas a abandonarem seus pecados e se batizarem como sinal de arrependimento. Embora ele fosse de linhagem sacerdotal (Lc 1:5), João também combatia duramente a corrupção dos sacerdotes do Templo e o sistema tradicional.

Enquanto os fariseus e saduceus, que faziam parte dos principais grupos religiosos em Israel, viviam luxuosamente nas cidades grandes, João vivia em uma caverna no deserto, sobrevivendo à base de gafanhotos e mel silvestre (Mt 3:4).

Qual o motivo de sua prisão? João Batista havia sido preso por repreender Herodes Antipas, governador da Galileia (Mt.14:3-5), por seu escandaloso pecado de ter convencido Herodias, sua cunhada e sobrinha, a deixar seu marido e se casar com ele (Mc.6:17), o que a Lei judaica proibia, pelo fato de ser um crime de adultério e incesto (Lv.18:16).

Enquanto João estava na prisão, ele ouviu falar do que Jesus fazia por meio das Suas boas obras, ou seja, dos Seus ensinamentos, curas, milagres e libertação de demônios, e então João envia alguns dos seus discípulos para fazerem uma perguntar a Jesus.

1. Quem serve a cristo não está livre de dúvidas e decepções

Então João Batista envia seus discípulos para fazerem uma pergunta a Jesus:

O SENHOR é aquele que ia chegar ou devemos esperar outro? (Mt 11:3 NTLH).

Se observarmos bem essa pergunta que João Batista fez a Jesus, ou seja, se Ele era mesmo o Messias que haveria de vir, notaremos que ela soa um tanto quanto estranha, afinal, João foi um dos primeiros a reconhecer Jesus publicamente:

27 Ele [Jesus] vem depois de mim, mas eu não mereço a honra de desamarrar as correias das sandálias dele. 29 No dia seguinte, João viu Jesus vindo na direção dele e disse: — Aí está o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (Jo 1:27,29 NTLH).

João Batista deixa claro o seu reconhecimento acerca de Jesus como o Messias que viria para salvar o Seu povo, a ponto de afirmar que ele, ao contrário de um escravo, de quem se exigia que retirasse os calçados de seu senhor, nem mesmo era merecedor ou digno de realizar essa ação em relação a Cristo Jesus.

Em outra passagem, João viu o Espírito de Deus descer sobre Jesus quando Este foi batizado por ele e ouviu a voz do céu dizendo:

(…) Este é o meu Filho querido, que me dá muita alegria! (Mt 3:17 NTLH).

Se alguém sabia a resposta a essa pergunta, esse era João Batista. Então o que levou o profeta a ter dúvida a respeito de Jesus, se Ele era realmente o Messias?

2. As decepções podem afastá-lo de suas convicções cristãs

É possível que João tenha ficado desanimado com o rumo que a vida dele tomou, pois ele se encontrava injustamente preso e acorrentado, após ter apresentado Jesus como aquele que traria o juízo divino sobre a Terra.

Mas, se olharmos por outro lado, João estava acostumado com uma vida dura, pois vestia-se com roupas feitas de pelos de camelo e vivia como um homem rude do deserto, sobrevivendo à base de gafanhotos e mel do mato (Mt 3:4). Portanto, eu entendo que não seria uma prisão que o faria desanimar.

Além disso, João não ficaria surpreso de ser prisioneiro de Herodes. Ele conhecia as Escrituras e sabia que o destino da maioria dos profetas era cruel.

A pergunta de João Batista indica a decepção que ele sentiu por causa da informação que recebera na prisão sobre as boas obras que Jesus fazia. Nós podemos identificar as expectativas geradas por João acerca de Jesus quando o profeta advertiu os líderes religiosos que foram até ele para serem batizados.

7 Quando João viu que muitos fariseus e saduceus vinham para serem batizados por ele, disse: — Ninhada de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar? 8 Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados. 9 E não digam uns aos outros: “Abraão é nosso antepassado”. Pois eu afirmo a vocês que até destas pedras Deus pode fazer descendentes de Abraão! 10 O machado já está pronto para cortar as árvores pela raiz. Toda árvore que não dá frutas boas será cortada e jogada no fogo. (Mt 3:7-10 NTLH).

De acordo com João Batista, Jesus tinha vindo para separar a colheita. Ele recolheria os grãos de trigo e queimaria a palha com o fogo que nunca se apaga (Mt 3:12). No entanto, Jesus estava percorrendo os montes da Galileia pregando o Evangelho, curando enfermos e expulsando demônios.

O machado já estava pronto para cortar as árvores pela raiz e o fogo estava aceso, mas parece que Jesus não estava interessado por eles. Isso era tão contrário ao que João entendia que o Messias ia fazer que ele não podia deixar de perguntar.

O que está por trás da pergunta de João não era a dúvida, mas sim a decepção criada pela expectativa, ou pelo seu imaginário de que Deus eliminaria, imediatamente, todos aqueles que resistissem à sua mensagem.

3. As expectativas frustradas sobre Deus são o cerne de toda decepção

Quem nunca esperou algo e recebeu outra coisa no lugar? Achamos que íamos receber um presente do nosso cônjuge e ganhamos uma lembrancinha; abrimos a geladeira e achamos que iríamos comer aquela lasanha do almoço e encontramos só um ovo como mistura.

Pensamos que íamos receber a devolução do Imposto de Renda, mas acabamos tendo de pagar mais imposto para o Governo. A previsão do tempo prometeu sol no fim de semana, mas ao invés disso, choveu.

Essas decepções são tão comuns na vida que até podemos nos acostumar com elas, mas quando a decepção é com Deus, as coisas são diferentes.

Esperamos sempre um tratamento melhor da parte Dele. Aprendemos que as pessoas são falhas e inconstantes e que por isso elas vão nos decepcionar, porém Deus não é assim. “Deus não é homem para que minta” (Nm 23:19). Deus é constante, imutável, Ele não falha, não erra, Nele não há variação nem sombra de mudança. Ele é fiel e digno de toda a confiança.

No entanto, nos enganamos pensando que a mente de Deus e a nossa são a mesma, e estabelecemos metas para Ele. Sabemos o que queremos e assim colocamos na boca de Deus, deixando o nosso imaginário governar nossas expectativas.

Às vezes, os objetivos que estabelecemos na vida de fato podem se conformar com o que Deus pretende fazer. Quando isso acontece, ficamos muito animados a ponto de estabelecermos mais objetivos para Deus, porque achamos que Ele fará tudo o que imaginamos.

Porém, uma hora o que Deus realiza é tão contrário às nossas expectativas e imaginações que mal sabemos o que pensar.

  • Oramos por uma cura e o doente morre;
  • O emprego que parecia tão perfeito para nós vai para outra pessoa;
  • A pessoa que seria a companhia ideal para toda a vida não corresponde aos nossos sentimentos.

A nossa decepção não é acharmos que Deus não tem a capacidade de realizar o que pedimos, pois Ele pode curar quem quiser ou abrir uma porta de emprego onde quiser, e nós sabemos disto. A nossa dificuldade é achar que Deus, apesar de ter toda a capacidade para fazer, não fez o que imaginamos em nosso íntimo que Ele deveria ter feito.

A decepção de João Batista era o tipo de frustração que Jonas sentiu quando viu que o povo de Nínive seria poupado (Jn 4:1,2).

1 Por causa disso, Jonas ficou com raiva e muito aborrecido. 2 Então orou assim: — Ó SENHOR Deus, eu não disse, antes de deixar a minha terra, que era isso mesmo que ias fazer? Foi por isso que fiz tudo para fugir para a Espanha! Eu sabia que és Deus que tem compaixão e misericórdia. Sabia que és sempre paciente e bondoso e que estás sempre pronto a mudar de ideia e não castigar. (Jn 4:1,2 NTLH).

Percebem a decepção de Jonas com Deus? Ele queria que Deus fizesse o que ele havia imaginado, ou seja, que o SENHOR destruísse aquele povo.

Vamos entender a resposta que Jesus deu à pergunta que o profeta João Batista enviou por meio dos seus discípulos.

4 Jesus respondeu: — Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo. 5 Digam a ele que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e os pobres recebem o evangelho. 6 E felizes são aqueles que não abandonam a sua fé em mim! (Mt 11:4-6 NTLH).

O que é mais impressionante na resposta de Jesus à pergunta de João é que Ele não fornece nenhuma informação nova. João já tinha o conhecimento do que Jesus estava fazendo enquanto estava na prisão, dos Seus milagres e ensinamentos. Nada era novidade para João.

Então, o que Jesus queria dizer com aquela resposta à pergunta de João? Jesus estava se referindo à passagem de Isaías que diz assim:

5 Então os cegos verão, e os surdos ouvirão; 6 os aleijados pularão e dançarão, e os mudos cantarão de alegria. Pois fontes brotarão no deserto, e rios correrão pelas terras secas. (Isaías 35:5,6 NTLH)

Como estudioso das Escrituras, João teria reconhecido a referência, mas é o contexto da promessa de Isaías que tinha de ser entendido e aceito. Nos versículos anteriores, Isaías diz:

3 Fortaleçam as mãos cansadas, deem firmeza aos joelhos fracos. 4 Digam aos desanimados: “Não tenham medo, animem-se, pois o nosso Deus está aqui. Ele vem para nos salvar, ele vem para castigar os nossos inimigos”. (Isaías 35:3,4 NTLH)

Agora sim, o que Jesus manda responder a João?

4 Jesus respondeu: — Voltem e contem a João o que vocês estão ouvindo e vendo. 5 Digam a ele que os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e os pobres recebem o evangelho. (Mt 11:4-5 NTLH).

O que Jesus estava querendo dizer era: “João, o seu Deus já está agindo aqui e Ele veio para salvar você!”

Assim como João, ficamos decepcionados com Deus porque não vemos o que Ele está realmente fazendo.  O que acontece é que partimos de um pressuposto errado. Jesus veio por nós, mas isso não significa que Ele veio para nos agradar.

Jesus veio por nossa causa, mas Ele não responde a nós. Jesus veio por nós, mas Ele não se sujeita aos nossos planos, por melhor que eles sejam. Pelo contrário, Ele exige que nos sujeitemos aos planos Dele.

Então, as palavras de despedida de Jesus aos discípulos de João foram tanto de benção como de alerta:

E felizes são aqueles que não abandonam a sua fé em mim. (Mt 11:6 NTLH)

Essas foram as últimas palavras que João ouviria de Jesus antes de ser decapitado. São as últimas palavras de Jesus a nós em meio à nossa decepção, não importa qual seja a causa: “Felizes são aqueles que não abandonam a sua fé em mim!”.

Diante de uma grande decepção, normalmente pedimos uma explicação. Isto porque pensamos que a explicação nos fará sentir melhor. Foi o que João Batista pensou, mas em vez disso, Jesus nos oferece algo muito melhor, que é a Si mesmo!

Podemos nos agarrar à decepção ou podemos nos agarrar a Cristo. Quando entregamos nossa decepção a Cristo, estamos na verdade lhe entregando a nós mesmos. Enquanto nos firmamos na esperança, nós nos rendemos ao controle da Graça de Deus.

Para finalizar, quero deixar duas passagens que mostram exatamente quem Deus É e como Ele pensa:

Só eu conheço os planos que tenho para vocês: prosperidade e não desgraça e um futuro cheio de esperança. Sou eu, o SENHOR, quem está falando. (Jeremias 29:11 NTLH)

8 O SENHOR Deus diz: “Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos, e eu não ajo como vocês. 9 Assim como o céu está muito acima da terra, assim os meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus. (Isaías 55: 8,9 NTLH)

Que Deus nos abençoe!

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